História 05 – “Cravo, Rosa e Jasmim”

19.12.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

História tradicional Portuguesa gravada em 2 de Fevereiro de 2006.

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História 04 – “A Saia de Campainhas”

17.12.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

História tradicional Portuguesa gravada em 23 de Janeiro de 2.006.

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História 03 – “O menino de Ouro”

16.12.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

Repondo um a história gravada em 2.006.

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História 02 – “Outra história do Capuchinho Vermelho”

14.12.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

Versão do “Capuchinho Vermelho” em história tradicional Portuguesa.
Gravada em 2006.

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História 01-a – “As três maçãs de Sto. António”

13.12.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

História tradicional Portuguesa gravada em 2006

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História 01 – “A Cara de Boi”

12.12.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

História tradicional Portuguesa, gravada e disponibilizada em 5 de Janeiro de 2006.

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História 177 – “O Mocho e o Lobo”

07.12.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

História 177 – O Mocho e o Lobo

O lobo andava no mato e o mocho estava em cima de um pinheiro no ninho.
O lobo enroscou o rabo no pinheiro como quem o queria serrar. O mocho de cima disse-lhe:
ó compadre, não me serres o pinheiro, senão os meus 
filhos caem abaixo e morrem.
Responde o lobo:
Pois se não queres que eu serre o pinheiro, anda tu cá
 abaixo.
O mocho não queria, mas afinal sempre veio vindo de galho em galho, e depois disse para o lobo:
Lobo, o que queres de mim?
O lobo respondeu:
Anda cá mais abaixo, que quero dizer-te um recado.
O mocho respondeu:
Diz daí, que eu ouço bem.
O lobo tornou a dizer:
Anda cá, que eu não te faço mal.
O mocho descuidou-se e desceu, e o lobo passou-lhe os dentes e meteu-o na boca.
O mocho de dentro da boca do lobo disse:
Eh! Compadre, não me comas, que eu quero fazer testamento!
O lobo disse-lhe:
Não, mas agora no galheiro estás tu.

Diz o mocho:
Então deixa-me ir despedir-me lá acima da árvore dos 
meus filhos.
O lobo disse:
Não, que, depois, nunca mais voltavas.

Disse então o mocho:
Olha, ao menos hás-de dizer três vezes, que é para eles
 saberem: Mocho comi.
O lobo disse muito baixinho, para não abrir a boca: Mocho comi.
O mocho disse-lhe:
ó compadre, fala mais alto, senão não ouvem.
O lobo tornou a repetir: Mocho comi, já mais alto. Responde o mocho:
Mais alto, senão eles não ouvem.
Nisto o lobo escachou a boca para gritar mais alto e dizer: Mocho comi.
O mocho, mal apanhou a boca aberta, abalou para cima do pinheiro e disse-lhe:
Outro sim, que não a mim.

Ouvimos a História 177, o Mocho e o Lobo.

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História 176 – “As lebres e as rãs”

09.09.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

História 176 – “As lebres e as rãs”

Andando a passear um grupinho da família das Lebres, desencadeou-se uma tempestade tão repentinamente que todos os bichinhos que andavam fora das suas casas correram a abrigar-se, enquanto o céu escurecia, o vento sacudia as árvores e a chuva caía em torrentes.
Assustadiças como eram, as meninas Lebres gritaram e puseram-se a correr tão apavoradas, que nem sabiam para onde iam. Correndo como loucas, quase se afogaram numa poça enorme que havia num descampado e onde vivia uma família de rãs. Andavam elas cá fora, a dar uma volta para abrir o apetite para o jantar, quando viram as Lebres aproximar-se em grande correria. Julgaram que iam ser atacadas e tiveram tal medo que, de um salto, umas dezenas delas se atiraram para a água e foram esconder-se bem no fundo da poça.
À vista daquele quadro inesperado, as Lebres pararam e puseram-se a olhar umas para as outras, cheias de pena.
— Coitadas das rãs! — comentaram. — Tiveram tanto medo de nós, como se nós fizéssemos mal a alguém, e afogaram-se! Afinal, para metermos medo a alguém, é porque há quem seja mais medroso do que nós…
Entretanto, a tempestade passou, o sol brilhou no céu e as árvores começaram a agitar os ramos brandamente. Voltara a calma e, ao regressarem a casa, as meninas Lebres admiravam-se de se terem assustado com tão pouco.

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História 175 – “A águia, a gata e a porca”

11.07.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

História 175 – A águia, a gata e a porca.
D. Águia fizera a sua casa na ramaria mais alta de um carvalho.
Mais tarde, D. Gata Brava foi também habitar na mesma árvore, mas a meio dos troncos, e algum tempo depois foi a Sr.ª Porca que veio morar para a mesma árvore, instalando-se nas raízes, que cavou fundo, abrindo uma galeria.
D. Águia teve filhos, D. Gata também e as três famílias viviam satisfeitas e em paz no mesmo carvalho.
Um dia, porém, D. Gata Brava teve desejo de ser má e trepando pelos troncos chegou ao ponto mais alto da árvore onde morava a D. Águia e disse-lhe:
– Ó vizinha, eu não gosto de falar mal de ninguém, mas também não posso saber que está para acontecer mal a qualquer e não avisar.
– Mas diga, D. Gata – convidou a Águia.
– Sei que a Porca se instalou aqui na árvore com a ideia de ir roendo as raízes até que tudo venha abaixo, para depois assaltar as nossas casas e se banquetear com os nossos filhos. Venho avisar a D. Águia para se acautelar.
– Que marota, vizinha! Agora, já nem saio de casa, para defender os pequenos.
Mas, de casa da D. Águia, a Gata desceu a casa da Sr.” Porca.
– Ó vizinha!
– Que é, D. Gata?
– Ouvi agora uma conversa que me arrepiou e venho avisá-la.
– Então que há?
– A D. Águia, há bocado, estava a dizer aos filhos que os seus meninos são tão gordinhos e desenxovalhadinhos que se fazia com eles um bom jantar. Diz que logo que a senhora saia de casa…
– Ah! não me diga isso, D. Gata! Que horror!
– Pois é verdade, Srª Porca, acautele-se.
– Valha-me Deus! Nem eu saio de casa, para tomar conta dos miúdos…
– Eu vou fazer o mesmo com os meus filhos, vizinha, porque com gente desta na vizinhança não podemos estar sossegadas. Até logo!
– Até logo, D. Gata, e obrigado!
A Gata foi-se embora e a Porca ficou em casa, aflita, a pensar nas más intenções da Águia. Esta, por sua vez, ficou desesperada com a maldade da Porca, e, as duas, temendo-se uma à outra, nunca mais saíram de casa, para tomarem conta dos filhos.
Assim, não mais foram procurar comida e não mais puderam alimentar os filhos. Foram enfraquecendo todos até não se poderem mexer e, quando os apanhou assim, a Gata foi primeiro a casa de uma e depois a casa de outra e comeu a mãe e os filhos.
E, assim, a pobre D. Águia e a pobre Srª Porca foram vítimas da maldade da D. Gata, por terem acreditado nas suas mentiras.
Não há pior do que uma mentira!

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História 174 – “O Cão e a Ovelha”

06.07.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

História 174 – O cão e a ovelha
Era de Inverno. A neve e as árvores perdiam as folhas com o frio, enquanto os animais tremiam.
O Cão Ruinzão foi chamar o Lobo, o Abutre e o Milhafre para servirem de juízes no caso de roubo de que ele acusava a Ovelha. Os três eram amigos do Cão Ruinzão e ainda não tinham ouvido contar o facto já davam a Ovelha como inteiramente culpada da acusação.
Foram para o local do julgamento e a discussão do caso principiou. A Ovelha, coitada, falou, protestou, afirmou mesmo que a acusação que lhe faziam era uma calúnia, mas os juízes, que apenas desejavam defender o Cão e condenar a Ovelha, declararam-na culpada.
— Senhora Ovelha — disseram eles — é escusado jurar e afirmar, porque basta a sua atitude para vermos que o Cão tem razão. Condenamo-la a despir a sua lã e a entregá-la toda ao Sr. Cão, para pagamento do que lhe deve!
A pobre Ovelhinha chorou e lastimou-se, mas teve de se deixar tosquiar em pleno Inverno, porque nada podia contra a força dos quatro inimigos que tinha na sua frente e que até seriam capazes de a matar se quisessem.
Ficou, pois, nuazinha, durante as neves do Inverno, como todos os que caem na mão de inimigos fortes e cruéis.

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História 172 – “O Pastor feito Mercador”

23.06.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

História 172 – O Pastor feito Mercador

Era pastor desde menino. Conhecia o seu rebanho como os seus dedos e mal uma ovelha balia, já ele sabia o que ela queria. Queimado do sol, curtido pela neve no Inverno, atravessava as serras e os vales guiando o seu rebanho a caminho das sombras e das pastagens. Também as ovelhinhas o conheciam muito bem e, a um sinal seu, elas entendiam-no e obedeciam-lhe.
E numa tarde de Verão muito quente, quase ao anoitecer, desceu com o seu rebanho até à praia, e ovelhas e pastor deitaram-se na areia, à sombra dos pinheiros que havia à beira do mar. As ondas iam e vinham, muito mansas, como ovelhas de um rebanho, debruadas de espuma alva, que se rasgava aos bocados, como rendas leves, presas nas pedras e nas areias da praia. Mas o Pastor não dormia; pensava nas lebres do bosque e nas aves que chilreavam nas fontes e nas árvores, ouvia os sons doces e tristes da sua flauta de cana e sonhava com flores, com pastoras e com a felicidade. Não ser pastor… ser rico… não andar um dia inteiro, uma vida inteira atrás das ovelhas, a guiar o seu rebanho…
Por fim, a Lua apareceu no céu, a iluminar tudo de sombras misteriosas e de luzes fascinantes. À sua claridade tudo tomou um aspecto diferente e adquiriu uma forma fantástica. O mar era um espelho, mais brilhante e mais atraente, as ondas pareciam pedacinhos de luz,bocados da própria Lua caídos do céu, a rolar na enorme superfície…
E o Pastor começou a pensar:
— O mar é tão belo… o mar é tão poderoso… Ele leva-nos para terras distantes… Ele faz-nos conhecer outros mundos… Ele faz enriquecer os homens… Porque hei-de eu continuar a ser pastor?! Se eu vendesse o
meu rebanho podia comprar um barco e fazer-me mercador. Levava mercadorias de um lado para o outro do mundo e enriquecia, sem dúvida…
Levantou-se um pouco, de olhos no céu e no mar:
— Em pouco tempo seria um homem rico… rico…O mar é tão belo… e tão bom… Como ele está manso…como está bonito…
Seduzido pela beleza e pela bondade que ele via no mar, o Pastor fez o que pensara naquela noite: vendeu o rebanho das suas ovelhas mansas e bonitas, que baliam por ele, e comprou um barco, um belo navio, com mastros altos, velas brancas e largas, que, abertas, semelhavam asas a levarem o barco para longe, para muito longe…
O Pastor juntou todo o dinheiro que pôde, pediu algum emprestado, comprou um carregamento de tâmaras e fez-se ao mar, esperançoso e alegre, convencido de que voltaria rico logo na sua primeira viagem.
A meio do caminho, porém, tudo se modificou. Uma grande tempestade surgiu e o barco de velas brancas e largas foi impelido pelo vento e sacudido pelo mar, de tal maneira que oscilava ao de cima das ondas, como um brinquedo leve. O vento e o mar embravecidos, raivosos, rugindo e silvando medonhamente, partiram-lhe os mastros, rasgaram-lhe as velas e em pouco tempo o barco ficou arrombado, a meter água, e afundou-se, destruído. Dificilmente os homens salvaram a vida: tudo o resto se perdeu.
O Pastor, que sonhava ser um rico mercador, ficou mais pobre do que antes: agora nem um só cordeirinho tinha… Recordou o seu querido rebanho, que ele trocara por um desejo e por uma esperança, e foi pedir trabalho ao homem a quem o vendera, para voltar a ser pastor e não morrer de fome.
Depois, quando nas horas de sol se deitava à sombra das árvores com as suas ovelhas, dizia para elas:
— Nunca mais… nunca mais as deixo por uma coisa que eu não conheça. Aprendi à minha custa, mas as lições aprendidas assim são as que nunca mais esquecem.

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História 173 – “Os dois companheiros”

23.06.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

História 173 – Os dois companheiros

Dois homens seguiam por uma estrada fora. Como se dirigiam para o mesmo sítio, tinham combinado ir juntos, para fazerem companhia um ao outro e para se ajudarem mutuamente nas surpresas da viagem.
A certa altura apareceu a um lado da estrada um machado abandonado, que o mais novo logo apanhou, dizendo muito contente:
Olha, achei um machado!
Não digas achei-a – conselhou o mais velho – diz achámos, uma vez que vimos juntos e que o que encontrarmos de bom ou de mau pelo caminho tem de ser para os dois.
Mas, isto é outra coisa – protestou o primeiro – porque quem viu o machado fui eu e eu é que o apanhei; portanto é meu e muito meu.
Estavam nisto quando viram na sua frente um homem muito mal-encarado. Era o dono do machado, e avançava para eles zangadíssimo.
Agora é que estamos mal – disse com medo o que tinha apanhado o machado.
Estamos, não —respondeu o outro – estás. Porque se quiseste só para ti o que era bom, também deves ficar sozinho com o que é mau. Os bons amigos conhecem-se por repartirem entre si tanto o mal como o bem. Adeus!
E afastou-se, deixando o outro sozinho na estrada.
E aqui termina a história dos dois companheiros

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História 171 – “A Raposa sem rabo”

07.06.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

História 171 – A Raposa sem rabo

A prima Raposa andava à caça. Era noite fechada e nenhum de nós veria um palmo adiante do nariz. Mas a prima Raposa sabia ver de noite e, por isso aproveitava essa hora para fazer as suas caçadas; de dia cuidava dos arranjos caseiros, do asseio da sua linda pele e sobretudo do seu lindo rabo. Tinha o maior orgulho nele, e, na verdade, a prima Raposa passava por ter uma das caudas mais bonitas da família e da vizinhança.
A caminho da capoeira próxima, a prima Raposa atravessou um quintal e outro e outro, e sem saber como, foi cair numa ratoeira de que ela nunca suspeitara e ficou presa pelo rabo.
— Isto só a mim me aconteceria! — começou ela a lamentar-se —. Mais me valia não ter rabo! Se aqui me deixo ficar é morte certa…
Mas, por mais que fizesse, nem o rabo se desprendia da ratoeira, nem esta vinha atrás do rabo. Porém, tanto puxou, na ânsia de se ver livre, que o ferro da ratoeira cortou-lhe o rabo e ela pôde fugir, sim, mas sem rabo: teve de lá deixá-lo.
Chegou a casa tristíssima, por se ver privada da coisa mais bela que possuía no seu corpo e ao ver as primas e os primos todos com o seu formoso complemento, ficou ainda mais triste e começou a sentir inveja. Todos tinham cauda — uma cauda tão linda! — menos ela! E além
disso passou a ser objecto de admiração: nunca tinham visto uma raposa sem rabo!
Mas então que foi isso?! — perguntavam eles —. Como foi que ficou sem cauda, prima?
Como foi que fiquei sem cauda, não! Porque é que a tirei! — emendou ela, resolvendo mentir, para não contar o que lhe acontecera.
Tirou-a?! — perguntaram todos espantados.
É a última moda — explicou ela —. É o que se usa agora entre as raposas distintas, da melhor sociedade. E vocês devem fazer o mesmo. Isso de rabo é uma moda antiga, que já só se vê entre os velhos…
Os primos e as primas mais jovens, zelosos da sua elegância, começaram a mirar-se com desgosto, convencidos de que a prima Raposa tinha razão. Mas uma parenta velha, que sabia perfeitamente como as coisas se tinham passado, falou no meio de todos à raposa der-rabada:
— Minha querida amiga, acredito na sua moda e nas conveniências dela, mas digo-lhe já que nós não cortaremos os nossos rabos. Se um dia nos encontrarmos na mesma situação em que a priminha se viu, então deitaremos fora o rabo, mas antes disso, não! Que os infelizes
como você queiram que os outros os acompanhem, compreende-se, mas que os outros se disponham a seguir a mesma sorte de um infeliz, é que não! Quando o mal por cá tocar, veremos… Fique lá sem o seu rabo, que nós tomaremos conta dos nossos, de forma a que continuem
bem inteirinhos…
É claro que a prima Raposa teve de calar-se e nunca mais quis convencer a família e os amigos de que o ideal era as raposas não usarem rabo.
E aqui termina a história da raposa que ficou sem rabo

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História 170 – “O conselho dos Ratos”

30.05.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

História 170 – O conselho dos ratos
O Sr. Gato Caçador fazia uma tal destruição na família dos ratos que eles andavam alarmadíssimos e apavorados.
– Por este andar não escapa nenhum de nós; nem um fica para amostra! Vamos todos parar ao bucho do Gato… – diziam uns para os outros em voz baixa, escondidos pelos cantos. – Que desgraçada situação a
nossa! Temos de tomar uma resolução.
E uma noite todos se reuniram em conselho, numa grande assembleia.
Caros amigos e companheiros de trabalho — começou o que tomara a presidência da mesa. – Encontramo-nos aqui reunidos para discutirmos um assunto de importância vital para a nossa existência. Trata-se da chacina que o Gato da casa anda a fazer em nós desde que veio
para cá. Temos de defender-nos dele, seja como for, e para trocarmos impressões a este respeito, para debatermos opiniões e apresentar sugestões, aqui nos reunimos hoje. Está aberta a sessão e vou dar a palavra a quem a pedir.
Todos os ratos e ratinhos começaram a falar, querendo ter a palavra ao mesmo tempo para apresentarem as suas ideias e os seus planos de defesa, que cada um supunha o melhor. O barulho e a confusão eram grandes e o presidente da assembleia teve que tocar a campainha várias vezes e de gritar para se fazer ouvir. Por fim estabeleceu-se a ordem e todos voltaram aos seus lugares, principiando, então, a apresentação e a defesa das ideias de cada um deles. Mas não havia maneira de aparecer um plano que merecesse a aprovação de todos. Em todos os planos havia uma falta ou um imprevisto, que os mais prudentes notavam e condenavam. Já começavam a desanimar de encontrar uma solução, quando o mais velho dos ratos, um grande rato quase calvo e tendo brancos ou poucos cabelos que lhe restavam, de óculos no nariz e boca desdentada, disse solenemente:
– Peço a palavra, Sr. Presidente!
– Queira falar, Sr. Rato Velho.
– Tenho um plano que me parece o melhor. Penduremos um guizo ao pescoço desse assassino Gato Caçador, e sempre que ele ande a rondar-nos, nós ouvimos tilintar o guizo e pomo-nos em fuga.
– Boa ideia! Boa ideia, Sr. Rato Velho! É o primeiro plano com jeito que aí aparece! – gritaram todos entusiasmados -.Bravo! Apoiado.
Esta ideia foi aprovada por unanimidade e todos retiraram para suas casas.
Iam todos andando pelos corredores a comentar e a discutir a ideia.
Uma coisa tão simples! E ainda não nos tinha ocorrido.
É verdade!
Mas olhem lá – disse o ratinho mais novo – vocês já pensaram qual de nós irá pôr-lhe o guizo ao pescoço?
É verdade! – exclamaram todos, parando, desanimados. Ainda não tínhamos pensado nisso! Quem se atreverá a aproximar-se do Gato e a pôr-lhe uma fita ao pescoço com o guizo!
Reconhecendo a sua fraqueza, os ratos lá foram indo, encolhidos, para as suas tocas, pensando que aquilo que é fácil de dizer é muitas vezes difícil de fazer.
E o Gato Caçador continuou a papá-los livremente.
E aqui acaba a história

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História 169 – “O Lobo e o Cordeiro”

22.05.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

Num dia quente de Verão o Lobo saiu do covil e foi ao ribeiro beber, porque estava cheio de calor. O Cordeiro, que andava ali perto, atrás da mãe, teve sede e também foi ao ribeiro, colocando-se da parte de baixo, para onde a água corria.
– Sai daí! – gritou-lhe o Lobo, de mau humor. – Estás a sujar-me a água.
Eu, Sr. Lobo?! —respondeu-lhe o Cordeiro humildemente. – Como pode ser isso, se eu estou da parte de baixo da corrente?
– Pois se não me estás sujando a água agora, há já seis meses que me estragas as relvas e os prados onde eu costumo descansar depois das minhas caçadas.
– Isso também não é possível – tornou o Cordeirinho, a tremer – porque há seis meses não era eu nascido; nem dentes tenho ainda…
– Pois então, se não foste tu, foi o teu pai, o que no fim de contas vem a dar no mesmo.
E atirando-se ferozmente ao pobre Cordeirinho, o Lobo matou-o e comeu-o.
Quando a mãe Ovelha deu por falta do filho e soube do que se passara, baliu angustiadamente para as companheiras.
– Para os mal-intencionados como o lobo, nunca há inocentes como o meu filho. E a sua maior inocência foi tê-lo deixado roubar-lhe a vida por querer dar-lhe explicações. Aprendam, amigas, e quando virem um lobo não tentem chamá-lo à razão, porque perdem o tempo e se arriscam a morrer. Fujam!
E aqui acaba a história.

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História 168 – “A Raposa e o Camponês”

10.05.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

Algum tempo depois a Sra Raposa viu-se nos mesmos trabalhos: uma matilha de cães de caça perseguia-a e desta vez, nem uma moita de espinheiro lhe aparecia para se esconder. Sentia-se já a cair de cansada por ter corrido tanto, quando teve a sorte de ver um camponês à porta de sua casa:
Bom homem! – pediu ela aflita – tenha pena de mim, que venho a correr há tanto tempo, perseguida por uns cães. Deixe-me esconder no seu celeiro!
Esconde-te à vontade, Raposa! – consentiu o camponês.
A Raposa entrou logo no celeiro e ocultou-se bem, debaixo de uns sacos, atrás dos montes de trigo. Os cães vieram a ladrar e atrás deles os caçadores, que perguntaram ao dono do celeiro:
– Não viu passar por aqui a Raposa?
Ouvindo a pergunta, a Sra. Raposa pôs-se a espreitar para ver o que eles faziam. E ouviu o Camponês responder: – Ná, não senhor, não vi passar nenhuma raposa por aqui.
Mas ao mesmo tempo indicava o celeiro com a mão, fazendo um gesto que significava:
– Está ali dentro do celeiro. Se quiserem vão lá apanhá-la.
Os caçadores é que não entenderam ou não repararam no gesto e seguiram para diante. A Raposa, então, saiu do seu esconderijo e pôs-se a andar a caminho da mata.
– Pst! Pst! ó Sra. Raposa — chamou o Camponês.- Que uso é esse de receber um favor tão grande como o que eu lhe fiz agora e pôr-se a andar sem ao menos dizer obrigada?!
A Raposa pôs-se a rir.
– Boa ideia, amigo! Tenho a agradecer-lhe as palavras que disse, é certo, mas como nada lhe devo pelo gesto que fez, estamos pagos!
E a Raposa, espertalhona, lá foi a correr para a mata, onde se escondeu.

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História 167 – “O Cavalo e o Leão”

21.04.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

O Cavalo e o Leão.
Deitado, a meditar no jardim do seu palácio, rodeado de grandes e velhas árvores, o Sr. Leão recordava, cheio de cobiça, um belo cavalo que há já dias via a passear na campina.
«Quem me dera apanhá-lo! – pensava ele – gordo, desenxovalhado, bonito. Com ele eu fazia, pelo menos, dois jantares. Mas como hei-de conseguir aproximar-me, se ele foge logo que me vê?»
Tantas voltas deu à cabeça, a fim de achar uma solução para o caso, que lhe ocorreu um expediente, que lhe pareceu bom.
Levantou-se do seu descanso, saiu e ao primeiro vizinho que encontrou disse:
— Já sabe? Há dias que ando a aprender a tratar doenças e tanto tenho estudado que já sei fazer tudo quanto é preciso para curar um doente. Não tenho medo que me morra um doente na mão.
Ao segundo vizinho que encontrou contou a mesma história e a outro e a outro, até que em pouco tempo todos sabiam que o Sr. Leão tratava doenças e era já médico de fama.
E como só se falava daquele facto importante, o Cavalo depressa soube também, mas não acreditou na peta, como os outros, e tanto procurou a razão dela, que a encontrou: o Sr. Leão só queria aproximar-se dele, de forma que ele não fugisse. Jurou que se desforraria da manha do Leão e começou a andar sempre prevenido para tudo.
E uma bela tarde lá viu o Leão aproximar-se, muito vagaroso, cheio de majestade.
Boa tarde, amigo Cavalo – disse o Leão de longe. – Então como vai?
Menos mal, obrigado – respondeu o Cavalo.
Já deve saber que sou médico.
Já me disseram, já, e estou contentíssimo, porque há quase uma semana que trago um espinho num pé e gostaria que o Sr. Doutor mo tirasse o mais depressa possível.
Ora vamos lá ver isso, então – respondeu o médico feito à pressa, a pôr os óculos. – Mostre lá o pé.
É este – replicou o Cavalo voltando-se e estendendo-lhe uma das patas traseiras.
O médico improvisado agarrou-a e pôs-se a observá-la cuidadosamente, dizendo consigo: «Que rica ideia! Tenho-te na mão!»
Porém, ainda não tinham decorrido dois minutos, um tremendo coice do Cavalo assenta-lhe em cheio no nariz e fá-lo virar os pés pela cabeça.
Quando se refez do tombo e pôde entender o que se passara, já só viu o Cavalo ao longe, correndo à desfilada. Entretanto ele, o médico que sabia tratar todas as doenças, gemia com dores no nariz, de onde o sangue corria com abundância, e pensava que o culpado daquele valente coice fora só ele, porque o mau plano que fizera contra o Cavalo virara-se contra ele próprio.
E aqui acaba a história de “O Cavalo e o Leão”.

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História 167 – “O Leão e os 4 Touros”

14.04.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

Quatro Touros bons amigos tinham por hábito andar sempre juntos. Saíam juntos, pastavam juntos, divertiam-se juntos.
O Leão, que morava nas proximidades, dava tratos à cabeça a ver se descobria a maneira de os fazer andar separados, cada um para seu lado, porque aquela união forte dos quatro impedia-o de atacar qualquer deles.
Se eu conseguisse apanhar um a jeito, de cada vez – dizia ele com os seus pêlos – tinha comida para uns poucos de dias sem me ralar nada. Mas assim… Com os quatro ao mesmo tempo é que eu não posso; davam conta de mim. Mas quem é que separa esses sócios, e de que maneira?!
O Leão tanto pensou, tanto espremeu os miolos, até que um dia se lembrou de um meio que lhe pareceu ótimo para dividir os quatro amigos. Foi ter com a Raposa e disse-lhe:
Já sabe, comadre, que os nossos quatro vizinhos Touros se desentenderam?
Sim? —indagou a Raposa, toda interessada.
É verdade. Começaram ontem a discutir por causa do sítio onde iriam hoje almoçar e às duas por três puseram-se a questionar e acabaram por se insultar uns aos outros. O mais velho, então, diz tão mal dos companheiros!
A Raposa correu a contar o sucedido ao Leopardo e ao Urso, estes passaram a outros e dentro de pouco tempo toda a floresta dizia de boca em boca o que o Leão e a Raposa iam contando acerca dos vizinhos Touros.
Poucas horas depois isto chegava aos ouvidos dos Touros e os quatro amigos puseram-se a pedir satisfações uns aos outros. «Disseram-me que tu disseste… – Não disse nada… – Ah! isso é que disseste…»
Então é que os quatro amigos se desarmonizaram. Ralharam, gritaram, ofenderam-se uns aos outros e acabaram por ir cada qual para seu sítio, separados pela primeira vez na vida.
Ora isto e o que o Leão queria era precisamente o mesmo… Atacou o primeiro que encontrou só e papou-o, ao segundo fez o mesmo, ao terceiro outro tanto e o quarto foi pelo mesmo caminho.
E os quatro amigos Touros, que tão felizes e tão fortes tinham sido enquanto viveram unidos, acabaram assim, miseravelmente, logo que acreditaram em intrigas e se isolaram uns dos outros.
«A união faz a força».
E aqui acaba a história.

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História 165 – “A Gralha e a Ovelha”

04.04.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

Certo dia em que a Ovelha andava a pastar sossegadamente, pousou-lhe nas costas uma Gralha. Imediatamente a Gralha começou a pairar e a fazer barulho de tal maneira, que em pouco tempo a pobre Ovelha nem sabia onde tinha a cabeça.
– Ó menina Gralha – pediu ela delicadamente – se pudesse calar-se ou fazer um bocadinho menos de barulho… Está a incomodar-me tanto…
Em resposta, a Gralha pôs-se a tagarelar ainda mais alto e foi-se entretendo a debicar na lã da Ovelha, até lhe chegar à carne, que picou sem compaixão.
– Menina Gralha – queixou-se a Ovelha – está a fazer-me doer!
– Bem me rala isso…
– Ah! se eu fosse um cão – lastimou-se a Ovelha – já não se atrevia a incomodar-me, porque eu podia tirar-lhe a vida.
– Bem sei o que faço. Se fosses um cão não me divertia contigo. Mas és uma ovelha fraca e velha, que não faz mal a uma mosca…
E continuou a gralhar às costas da Ovelha, e a brincar-lhe com a lã e com a carne, toda destemida, como certas pessoas, que são valentes com os fracos e humildes com os fortes.
E aqui acaba a história

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História 164 – “A Árvore e o Machado”

01.04.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

Tombado ao pé das árvores estava um machado, triste e solitário, porque não tinha cabo.
— Que sou eu sem cabo…? — lastimava-se ele. — Uma
coisa inútil…
Compadecidas de tal situação, as árvores todas pediram ao Zambujeiro que estendesse um dos seus braços e oferecesse um cabo ao Machado. O Zambujeiro, que também tinha bons sentimentos, assim fez, e, lentamente, estendeu-lhe uma vara comprida e forte, que o Machado logo aproveitou, enfiando-se nela. E ficou todo contente, estendido no chão, a gozar a frescura das árvores amigas.
Eis que passa por ali um lenhador e, vendo o Machado pronto a servir, agarra-o e começa a derrubar as árvores e a cortar-lhes as ramadas.
As árvores, apavoradas, encolhiam-se umas contra as outras, tentando defender-se, mas nada podiam fazer: uma após outra iam sendo destruídas.
Desesperado, o velho Sobreiro disse para o Freixo:
— Só nós tivemos culpa do que está a acontecer, por
que favorecemos um inimigo. Se nunca tivéssemos dado
um cabo ao Machado, estaríamos livres do seu ataque.
Mas já era tarde para a árvores se arrependerem de ter dado armas ao próprio inimigo, porque nas mãos do lenhador o Machado continuava a rachar, a partir, a derrubar.
E aqui acaba a história.

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História 163 – “A Lebre e a Tartaruga”

21.03.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

A Lebre andava sempre ligeira, quase a correr como o vento, e fazia-lhe nervoso ver a pachorrenta da Tartaruga a caminhar vagarosamente para onde quer que fosse. Chovesse ou fizesse sol, houvesse perigo ou não, a Sra. Tartaruga não passava do seu passo habitual, pausado e sossegado.
Nos dias de festa, enquanto a bicharada combinava sair junta e todos se punham a andar, era certo e sabido que a velha Tartaruga ficava à cauda do rancho, a fechar a marcha, a andar compassada, tão mole, tão mole, que a Lebre tomava fôlego, andava pelas duas e punha-se à frente de todos, a correr, como lebre que era.
E um belo dia não se conteve e disse para a Tartaruga: — E se eu fosse como a senhora, já tinha morrido de aborrecimentos. Eu podia cá andar nesse passinho de enterro! Eu sempre queria vê-la a correr comigo, a ver se espertava.
Muito bem — respondeu a Tartaruga, pacatamente. — Vamos lá experimentar isso. Fazemos uma corrida de cinco quilómetros, e aposto quem vai ganhá-la sou eu.
Bonita aposta! — respondeu a Lebre — Vamos já sair de dúvidas.
Convidaram a Raposa para juiz e ambas partiram para a corrida. A Lebre, como sempre, largou veloz como um foguete e em pouco tempo se perdeu de vista. A Tartaruga, como era seu costume, deixou-se ficar a andar lentamente, a andar… a andar… pela estrada fora.
Depois de correr um bocado, a Lebre voltou-se para trás e, não avistando a Tartaruga, deu uma gargalhada.
— A esta hora ainda ela está dando as primeiras passadas. Nem me vale a pena andar mais por agora. Até tenho tempo de dormir uma soneca enquanto espero por essa papa-açorda.
E deitou-se na relva fresquinha e apetitosa que havia à beira do caminho, principiando logo a dormir. Dormiu, sonhou, ressonou… e entretanto a Tartaruga, que vinha a andar devagar, muito devagarinho, mas sem perder um momento, passou junto dela, viu como a sua contendora dormia descuidadamente, sorriu-se e continuou o seu caminho.
Quando a Lebre acordou voltou a olhar para trás.
«Ainda não há-de vir a meio caminho — pensou. — Agora em quatro pulos chego ao fim e ganhei a aposta.»
Mas quando olhou para diante viu a Tartaruga, que acabava de chegar naquele instante ao lugar combinado para o fim da corrida. Tinha ganho a aposta!
E a Lebre, abatida no seu orgulho de boa corredora, ficou a pensar:
«Não é por muito madrugar que amanhece mais cedo».

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História 162 – O Rato da Cidade e o Rato do Campo

19.03.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

O Sr. Rato da Cidade foi um dia visitar o seu amigo Rato do Campo, que o tinha convidado a passar uma tarde com ele. Habituado ao conforto da casa da cidade em que vivia, o Sr. Rato da Cidade não gostou do buraco pobre, sem tapetes nem asseio, em que morava o seu amigo Rato do Campo. Este, coitado, bem fez tudo para lhe agradar, mas o Rato da Cidade mostrava-se cada vez mais enjoado com o que via.
Ao jantar, o Rato do Campo trouxe-lhe o que tinha de melhor: uns pedacinhos de queijo velho, uns bocados de pão, uma batata, raízes e alguma fruta. Ofereceu tudo ao amigo e ele pôs-se a roer uma palha dura e a aproveitar as migalhas que caíam.
Depois de comer, o Rato da Cidade disse ao amigo, com ar importante:
— Sabes que mais? Não sei como podes viver assim. Aqui não há comer, não há nada. Eu, no teu lugar, dizia adeus a esta miséria e ia para a cidade. Lá é que é viver! Com boa comida e boa toca; é um vida regalada!
O pobre Rato do Campo, envergonhado com a sua pobreza e seduzido com as belezas de que o amigo lhe falava, resolveu ir com ele para a cidade.
Quando lá chegou e entrou na casa onde o Rato da Cidade tinha a sua toca, ficou admirado com a riqueza que via e com os tapetes em que se afundava ao passar. Por toda a parte havia boas comidas e com fartura.
Contentíssimo, o Rato do Campo regalou-se a comer do melhor que encontrava, e o outro ria-se de o ver tão palerma no meio daquilo tudo.
Estavam os dois no melhor da festa, a comer e a rir, quando aparece um grande gato, que se atira a eles de um pulo. O da casa depressa enfiou para o seu buraco e fugiu ao gato. Mas o do campo, coitadinho! Aos saltos e às corridas, sem conhecer a casa, lá se escondeu do gato conforme pôde.
Quando o gato desistiu de apanhá-los e o susto passou, o pobre ratinho saiu do seu esconderijo e foi falar com o outro à porta da casa dele.
— Vou-me embora, amigo. Isto pode ser muito bom e muito bonito, melhor do que a minha casa pobrezinha, mas é perigoso.
Lá na minha casa como do que posso e quando há, mas estou descansado. Passa muito bem, que eu contento-me com o que tenho. Antes magro no mato do que gordo na boca do gato.
E voltou a correr para a sua casa.

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História 161 – “A lenda do convento das Mercês”

29.02.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

História 161 – “A lenda do Convento das Mercês.

Uma história que é uma lenda contada por Fernanda Frazão na sua obra “Lendas Portuguesas”.

Na ilha da Madeira houve em tempos um convento de capuchinhos, a cuja fundação está ligada uma lenda cheia de milagres e maravilhas.
Havia na ilha uma rica proprietária, D. Isabel de França — casada com Gaspar Berenguer de Andrade —, que se confessava habitualmente ao padre Ribeiro. Este há muito que tinha na ideia a fundação de uma casa de religiosas, em certo local deserto da ilha, e pediu à sua confessada que subsidiasse a obra.
D. Isabel, porém, alegava que só poderia contribuir com os terrenos, uma vez que tudo o resto era administrado pelo marido, homem avarento e pouco piedoso. Era sincera a senhora e, por isso, ficou preocupada por não poder satisfazer aquele desejo do religioso.
Uma noite aconteceu-lhe sonhar e ter uma visão de Nossa Senhora das Mercês. Dizia-lhe a Virgem:
– Isabel, quero o meu convento!…
Ó minha Nossa Senhora, não tenho dinheiro para dar, bem o sabeis!
Faz como quiseres, Isabel, dá até a tua camisa, mas faz-me esse convento!…
Antes que a senhora pudesse replicar, a Virgem desapareceu do seu sonho. Impressionadíssima com aquela aparição, D. Isabel decidiu ir contra a vontade do marido e aplicar na obra pedida todos os seus rendimentos pessoais.
O Demo, porém, estava apostado em impedir a fundação daquele mosteiro e, por intermédio de D. Gaspar, arranjou modos de mover o governador do bispado a dificultar, senão proibir, aquela obra. Assim, quando foi pedida autorização para iniciar a pia obra, o projecto foi recusado.
A Virgem das Mercês veio então em auxílio de D. Isabel e do padre Ribeiro: indo o bispo de viagem a Porto Santo, fez levantar um tão medonho temporal no mar que a embarcação esteve em via de se afundar.
O clérigo, meio morto de pavor, lembrou-se subitamente da sua recusa em autorizar a fundação do mosteiro e, logo ali, prometeu proteger o projecto se o mar amainasse. Nossa Senhora, que estava à espera disto mesmo, imediatamente ordenou ao mar que se acalmasse e este tornou-se num lago remançoso, espelhado de sol.
O clérigo cumpriu a sua promessa, mas o Demo não desistiu de levar a sua avante. Uma vez aplainadas as dificuldades de carácter religioso, começaram as seculares: o governador da ilha recusou terminantemente a autorização do convento.
Novamente vem a Virgem em auxílio do seu projecto. Este governador da Madeira era considerado herege por alguns senhores da ilha, mas, até então, a sua autoridade era indiscutível e ninguém se atrevera a contestá-la. De súbito, os grandes senhores da Madeira puseram-se de acordo quanto aos abusos de autoridade perpetrados pelo governador e tramaram uma conjura para o afastarem do cargo. Mandaram então uma embaixada ao Rei, em Portugal, e tão bem conduziram o assunto que o governador foi afastado do seu cargo.
Entretanto, a construção do edifício tora iniciada e as obras corriam em bom andamento. O Demo, desesperado, fez a terceira tentativa para frustrar a obra das Mercês: acabaram-se os recursos materiais de D. Isabel. A senhora deu voltas à cabeça, fez contas e mais contas com os feitores, mas não conseguiu nem mais uma moeda dos seus rendimentos.
Novamente os sonhos, provocados pela patrona da obra, vieram em auxílio de D. Isabel. Certa noite em que estava nestas aflições, adormeceu de cansaço e sonhou que em determinado local do seu jardim havia ouro enterrado, o suficiente para terminar a obra do mosteiro.
Na manhã seguinte, com o coração em alvoroço, dirigiu-se ao cantinho do sonho e começou a cavar às escondidas de toda a gente. Tão absorvida estava nesse trabalho que nem reparou que D. Gaspar se aproximava pé ante pé para ver o que estava ela fazendo, precisamente na altura em que a enxada batia num objecto bem sólido e sonante.
D. Gaspar percebeu rapidamente, com aquela intuição própria dos avaros, que o objecto em que tocara a enxada era um cofre, sem dúvida cheio de ouro, e apressou-se a exigi-lo para si.
Apanhada de surpresa, D. Isabel entregou o cofre ao marido, que, estupefacto, o encontrou cheio de carvão. D. Gaspar desiludido com o fraco achado, virou costas e foi à sua vida. Imediatamente o carvão se tornou em ouro e a devora senhora o entregou ao padre Ribeiro para a conclusão da obra.
Assim que tudo ficou pronto, instalaram-se as freiras e convocaram o capítulo para assentarem na regra a seguir.
Prestes a optarem por uma ordem rica, nova maravilha veio decidir a sorte do convento das Mercês: a terra começou a rugir e a tremer ameaçando destruir a obra que tantos sacrifícios custara. E as freiras, convictas de que era vontade de Deus, optaram então por uma regra de pobreza, ordem esta que durou enquanto o convento se manteve em funcionamento.
Conta-se ainda, deste convento que existiu na Madeira, que uma certa personagem de grande virtude vira durante muitas noites, naqueles sítios ermos, uma luz alumiando uma Virgem esplendorosa assaltada por legiões de demónios.

Ouvimos a lenda do Convento das Mercês, escrita por Fernanda Frazão.

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História 160 – “Lenda da Nazaré”

11.11.2011 | Produção e voz: Luís Gaspar

Quase todos conhecemos a lenda do Sítio da Nazaré, onde D. Fuas Roupinho foi salvo, no último minuto, de cair no precipício quando perseguia um veado. Valeu-lhe então a invocação que fez à Senhora da Nazaré. Essa, porém, é outra história que já foi contada neste programa.
Se queres ler a lenda ao mesmo tempo que a ouves, clica AQUI

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História 159 – “O degredado”

05.10.2011 | Produção e voz: Luís Gaspar

Vamos ouvir uma lenda recolhida por Fernanda Frazão, intitulada “O degredado de Ledão”

Nas faldas de Mantel há um lugarejo chamado Ledão.
Há muito tempo atrás, havia aí uma certa pedra jeitosa que os lavradores costumavam pôr nas grades, quando andavam a gradar.
(…)
Se queres ler a lenda ao mesmo tempo que a ouves, clica AQUI.

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História 158 – “Maria Mantela”

08.09.2011 | Produção e voz: Luís Gaspar

Hoje, vamos ouvir uma lenda intitulada “Maria Mantela” que fui buscar à obra de Fernanda Frazão, “Lendas Portuguesas”.
Se queres ler a história ao mesmo tempo que a ouves, clica AQUI

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História 157 – “A rainha orgulhosa”

24.08.2011 | Produção e voz: Luís Gaspar

Vamos ouvir uma história tradicional. Recolheu-a Consiglieri Pedroso e foi publicada na sua obra “Contos populares portugueses”
Se queres ler a história enquanto a ouves, clica AQUI.

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História 156 – “O Rei vai nu”

17.08.2011 | Produção e voz: Luís Gaspar

Depois de muitas semanas sem novidades, vou retomar a leitura das histórias e lendas. Porém, regresso com uma história que não é portuguesa, coisa rara por aqui, mas de autoria de um escritor dinamarquês, muito conhecido: Hans Christian Andersen.
Ele escreveu muitas histórias famosas como O Patinho Feio, A Pastora e o Limpa chaminés, O João Pateta e muitas outras e vamos ouvir neste programa, uma delas. Há muitas traduções, cada uma dando à mesma história, títulos diferentes: O Rei vai nu, As roupas novas do Imperador, O fato novo do Sultão, A vestimenta nova do imperador, etc., etc.
Até a história tem algumas pequenas diferenças. Vou ler uma versão que veio publicada no Clube das Histórias, numa adaptação da versão publicada pela Editora Ambar.
Vocês não conhecem o Clube das Histórias? Não acredito! Então, vão ao Google e procurem. Mas primeiro ouçam a história “As Roupas Novas do Imperador”, escrita por Hans Christian Andersen.
Se queres ler o texto da história clica AQUI.

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História 155 – “Lenda de Santarém”

25.01.2011 | Produção e voz: Luís Gaspar

Vamos ouvir a lenda da fundação de Santarém, segundo o texto de Fernanda Frazão.
Santarém, à qual já se chamou «Varanda do Ribatejo», é uma cidade de antiquíssimo povoamento. Crê-se que a sua fundação remonta a uns dez séculos antes da era cristã.
Se quiseres ler o texto da história enquanto a ouves, clica AQUI

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História 154 – Estremoz

04.01.2011 | Produção e voz: Luís Gaspar

Vamos ouvir como nasceu Estremoz, no texto de Fernando Frazão.
Estremoz, «vila notável e nobre, sempre leal», título que lhe foi concedido por D. Manuel I, é uma antiga povoação alentejana, por onde passaram todos os conquistadores da península, habitada desde tempos imemoriais.
Se queres ler o texto enquanto o ouves, clica AQUI.

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