Nota biográfica

Pedro Barão Campos. Acaba de publicar "Intensidade - Reflexões Poéticas" (Edição do Autor)

Pedro Barão de Campos – “Fronteira impossível”

06.10.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

Acorda-me o chilrear primaveril
E a noite já passou
Mais uma que ficou guardada na prateleira de velharias dispersas e indiferentes
À deriva do tempo.

Dei voltas à cabeça
Em murmúrios inocentes
No céu, um balão de ar quente colorido, chama por mim
Mas as minhas asas estão estragadas
Tenho a esperança rasgada
E não acredito mais na força do vento
Acho que ficarei por aqui.
Nada mais faria sentido!

Amanhã, quando acordar de novo
Poderei ter algo mais para sonhar
Se sonhar contigo, terei certamente um sorriso a procurar…

Linhas arbitrárias de nuvens no céu
Dão voltas a um azul de fundo
Onde o esboço do teu semblante acontece

Acontece porque estou a olhar o céu
E o teu semblante, na verdade, está dentro de mim
Não está no céu nem nas nuvens,
Está em mim.

Porque é que existem linhas que nos desmontam em pedaços?
Para quê a força do muro ou o frio do betão?
Se existem fronteiras de impossível mais gélidas e sombrias…
Que nos impedem de existir.

De relance, fito o horizonte.
Ao fundo do céu azul há um jardim infantil com crianças a saltar e há cães a correr atrás de bolas, pássaros a esvoaçar com a delicadeza de uma bailado sublime e baloiços em movimento com almas em estridente harmonia… e a relva verde… brilhante… com a banda sonora de gritos felizes…
E eu… longe… não encontro limites à alegria…
A não ser em mim.

Ao menos, se eu pudesse ser de novo uma criança pequena e brincar livremente com os outros meninos
… Aprender a saltar, a dançar, a ser alegre como os outros meninos são.
E poder, quando caio do cavalinho de madeira,
Ir correr a chorar, ao encontro da paz tranquilizante do colo da minha mãe.

Gostava de ter sido como todos os outros são.
E agora, certamente estaria a dar-te a mão, a olhar para ti,
Em vez de ser um poeta isolado, diferente e vazio.

Amanhã, soltar-me-ei dessa fronteira impossível
Serei estrangeiro ainda
Mas só na memória dos sonhos.

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Pedro Barão de Campos – “Deslumbre”

06.10.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

Deslumbre
Em ti, sublime
Afasto-me ao aproximar-te de mim.

A cada cortina de vento
O esboço ondulante do teu cabelo
Contornos de tudo
E a paisagem do mundo
É o que encontro em ti.

Na boca invento uma janela
Nos olhos, a doçura selvagem do teu sentir
A pele é a fronteira
De um universo inteiro
Por descobrir
E as mãos
Sempre as tuas mãos
Divagantes, voadoras, agitando a alegria pelo ar vazio
Como asas
Como melodia
De um som
Impossível para mim…

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Pedro Barão de Campos – “Cavalinho de brincar”

06.10.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

No meu cavalo de brincar
Sempre em frente
Cavalgo sem parar
Não tem fome nem tem sede
Alimenta-se de pensar!
É assim…
O meu cavalinho de brincar.

No recreio da escola
Sempre de um lado ao outro
A galope, a galope
Impossível de parar
Acompanha-me o vento
Nesta corrida de sonhar!
É assim…
O meu cavalinho de brincar.

Perto da porta da tua sala
A trote, resguardo a dança no limite.
Crinas esvoaçando, orelhas caídas,
Deslumbrante o teu olhar.
É sorridente, o meu semblante,
Perto de ti, contornando barreiras invisíveis…
Sou assim, à tua porta,
No meu cavalinho de brincar.

Num salto imaginário
Até ao início do nada
Nuvens de algodão embelezam de claridade o teu lugar!
Corcel de arco-íris…
Percorre cada passada a relinchar
E eu, assim, só a procurar por ti, no silêncio…
Cavalgando… cavalgando…
No meu cavalinho de brincar.

Fruto da tua cor
Imerso no teu paraíso interior
Adormeço com esse passeio no meu pensamento!

Feito da tua imaginação
Um mensageiro atravessa reinos num teatro de alegria
Por bosques, riachos, desertos e montes,
Transpondo declives e rochedos
Com os seus cascos de ventania.

Sei que amanhã já não haverá cavalinho.
Amanhã, terei sofrido demasiado para poder brincar.
Amanhã, terá desaparecido a tua imaginação.
E longe, impossível de alcançar…
Caminharei apenas…
À frente da porta da sala onde antes estavas
Ficarei ali, imóvel, estarrecido, a procurar… e a sonhar
Que a pessoa imaginada, em frente ao quadro branco,
Eras tu a cuidar
Do nosso cavalinho de brincar.

Olhei em redor,
Procurei melhor,
Não, não eras tu,
Era só o passado a regressar.

Era só eu a acreditar.
Em ti.
Acabou.

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Pedro Barão de Campos – “Liberta-me de tudo”

06.10.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

Solta-te
Liberta-me de tudo
E deixa-me vazio…
Um recipiente abandonado
Numa estrada por onde a guerra já passou.

Solta-te
Deixa-te ir num fluir que já não há
Ser talvez o que já não podes ser
E acontecer-te nunca e sempre
Numa espera que não alcança.

O que faço aqui, a olhar para ti?
Foi sempre assim?

Percorri tantas vezes o caminho mais difícil para te encontrar
Escondi-me tantas vezes
Fugi…!
Para quê?
Porquê?

Talvez, na sombra, entenda melhor o efeito da luz sobre os corpos
Talvez, ao relento, com o vento a massajar-me o pensamento
Encontre o inevitável fascínio
De uma montanha em aguarela colorida
E a tua figura como medida
Da excitação fulgurante e febril…
Do teu sorriso sublime.

Mas, porquê?
Porquê, gostar assim tanto de ti?

Solta-me, pensamento cruel!
Liberta-me de tudo!
Deixa de existir em mim!

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Pedro Barão de Campos – “O Sonho”

28.04.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

Às vezes, tenho um sonho 

Que de noite surge na minha 

almofada Como se fosse 

trazido por uma brisa doce Ou 

um beijo quente que me aconchega.

Ali acontece

Que de um instante ao outro, tudo

muda e fico sonho

Entre a realidade de estar a dormir e a 

ilusão do sonho que
me
invade e me transforma

E há uma linha ténue onde tudo se

mistura e cresce…

E eu sou turista breve entre um e outro

Mundo

No transcendente instante que se 

demora em mim.

De repente, sou todo sonho!

E o que era a cama é agora uma fresca

erva verde que me

cerca até ao arvoredo

E eu estou estendido nesse prado de

Encanto

Onde os sonhos são a forma das 

gaivotas e as copas das

árvores a dançar ao som de uma

melodia inconcebível…

Debaixo de um céu azul profundo

Sinto o vento a passar por mim e pelas

minhas mãos

quando as ergo em direcção ao Sol

Escuto a voz de um som que sopra por

entre a folhagem e

produz música…

Como um piano em que as teclas são 

as folhas e o pianista

é o pensamento

E vejo… a exaltação plena de uma 

tranquilidade nova

Vejo a natureza… e sou feliz.

De um lado há vacas a pastar

E as suas manchas que são pingos de 

tinta, deixados cair

por algum artista que conheci

Levam-me a subir a encosta até ao

topo do monte.

Pelo caminho, conheço aves de cores

Vivas

E revejo pedras que me falam ao 

passar.

Uma cabra da montanha fita-me
ao 
Longe

E um texugo do bosque ri-se da minha 

dificuldade em

caminhar.

Chego, finalmente, até um cipreste

E cumprimento-o ao chegar.

Do interior da casca, sinto um espírito

Pulsante

Que me responde sem falar.

Olho de relance…

Talvez tenha cem anos ou mais.

Falou-me do tempo e das coisas que 

Vira

Disse-me que ali, há mil anos atrás, 

havia um vulcão

Uma boca cheia de vento, fogo e 

Erupção

Onde a Terra se abria

Para extravasar a sua solidão.

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Pedro Barão de Campos – “Prisioneiro”

28.04.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

Vem, vem comigo

0 peito é quente

A madrugada é fria

E a saudade que tenho de um sonho

É toda a vida que me resta.

Sou apenas as mãos pintadas Sim, 

assim, estas mãos pintadas

Numa cor que tu não vês

Sou apenas o horizonte longe

Essa estonteante montanha 

De ilusões em neve fina Onde 

nunca irás

Sou esse firmamento de estrelas apagadas E

na verdade, a minha perdição é a liberdade

Que por querer ser livre 

Refém me torno em 

cada instante…!

Sou um prisioneiro faminto 

Num país feito de saudade.

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Pedro Barão de Campos – “Sou um pássaro”

28.04.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

Sabes,

Sou um pássaro.


Só hoje descobri

Por entre as arcadas do monumento alado em tua honra

Quando esticava os braços que eram asas à sombra

Olhei de relance para um espelho fixo

No outro lado da rua
E vi um corpo de pássaro…

Uma memória de pássaro…

Um levitar… de pássaro

Que não se escondia… nem calava.

Vi uma alma de pássaro…

Que não fugia nem se camuflava

No denso arvoredo que ainda haveria de existir

Junto ao lago sagrado do artista genuíno
Que compõe melodias feitas de si próprio
E se transforma… em breves instantes
Em instantes de si mesmo…

Nos pedaços da obra que inventa

Da escultura que molda

Do poema que escreve…

E ele a sua métrica… a sua regra…a sua forma… o seu

Sentido…

De sonhador…

De apaixonado…

De amante…
E crepita… luz! Crepita!

Cintila firmamento suave! Eu espero por ti… pela tua voz!

Espero… pelo teu sabor sumptuoso… febril… Quente…

Pelo teu silvo ardente…

Essa melodia divinamente harmoniosa

Que estipula… todos os limites do céu…

Aqui…

Ali…

No infinito…


Por dentro do vácuo ermo e sorridente

Desse lampejo de liberdade que é voar…

Assim…

Com as asas… Abanando…

Assim.…

Porque, sabes?

Sabes… meu bom amigo.. 

Hoje descobri…

Sou um pássaro!

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