Nota biográfica

Hermann Hesse (Calw, 2 de julho de 1877 — Montagnola, 9 de agosto de 1962) foi um escritor alemão, que em 1923 se naturalizou suíço. Nascido no seio de uma família muito religiosa, filho de pais missionários protestantes que tinham pregado o cristianismo na Índia. Estudou no seminário de Maulbronn, mas tendo recusado a religião, ainda adolescente, rompeu com a família e emigrou para a Suíça em 1912, trabalhando como livreiro e operário. Acumula então sólida cultura autodidata e resolve dedicar-se à literatura. Ganhou o Prémio Nobel da Literatura em 1946 com o seu romance "O Jogo das Contas de Vidro"

Hermann Hesse – “Envelhecer”

03.06.2015 | Produção e voz: Luís Gaspar

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Quanto mais envelhecia,
quanto mais insípidas me pareciam as pequenas satisfações que a vida me dava,
tanto mais claramente compreendia onde eu deveria procurar a fonte das alegrias da vida.
Aprendi que ser amado não é nada, enquanto amar é tudo (…).
O dinheiro não era nada, o poder não era nada.
Vi tanta gente que tinha dinheiro e poder, e mesmo assim era infeliz.
A beleza não era nada.
Vi homens e mulheres belos, infelizes, apesar da sua beleza.
Também a saúde não contava tanto assim.
Cada um tem a saúde que sente.
Havia doentes cheios de vontade de viver e havia sadios que definhavam
angustiados pelo medo de sofrer.
A felicidade é amor, só isto.
Feliz é quem sabe amar.
Feliz é quem pode amar muito.
Mas amar e desejar não é a mesma coisa.
O amor é o desejo que atingiu a sabedoria.
O amor não quer possuir.
O amor quer somente amar.

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Hermann Hesse – “O lobo”

10.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

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Lobo das Estepes sou, errando, errando,
Em volta a neve, na vastidão do mundo,
O corvo na bétula abre as asas para voar
Mas nem lebre ou corça vejo para amar!
As corças trazem-me tão enamorado,
Uma que fosse, não mais, desejo ver!
Tomá-la-ia nas mãos, nos dentes,
Oh! maravilha sem fim, igual não pode haver.
Amá-la-ia de todo o coração,
A sua carne delicada seria meu alimento,
O seu sangue vermelho-vivo minha bebida
E depois ulularia solitário pela noita adentro.
Uma lebre só, não mais queria,
Como é doce a sua carne quente na noite fria
Ah! ter-se-ão apartado para longe de mim
As coisas que dão encanto e sabor à vida?
O pêlo da minha cauda vai sendo grisalho
Os olhos também já não me deixam ver bem
Já há muito morreu a minha esposa amada.
E agora, só e errante, com corças sonho,
Ando só e errante, com lebres sonho,
Ouço o vento soprar na noite de Inverno,
De neve sacio a minha goela ardente,
E a minha pobre alma ao diabo entrego.

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Hermann Hesse – “O homem de cinquenta anos”

10.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

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Do berço ao esquife
distam cinquenta anos,
depois começa a morte.
Tornamo-nos imbecis, embrutecemos,
tornamo-nos labregos, desleixamo-nos
e os cabelos vão para o diabo.
Também os dentes damos por perdidos
e em vez de, em deleite,
apertarmos uma moça contra o peito,
lemos um livro de Goethe.

Mas uma vez mais, antes do fim,
quero ter uma dessas pequenas
de olhos claros e caracóis encrespados,
tomá-la nas minhas mãos,
beijar-lhe boca, seios e face,
despir-lhe saia e calcinhas.
E depois, em nome de Deus,
a morte pode levar-me. Ámen.

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