Hermann Hesse – “O lobo”
10.01.2012
Lobo das Estepes sou, errando, errando,
Em volta a neve, na vastidão do mundo,
O corvo na bétula abre as asas para voar
Mas nem lebre ou corça vejo para amar!
As corças trazem-me tão enamorado,
Uma que fosse, não mais, desejo ver!
Tomá-la-ia nas mãos, nos dentes,
Oh! maravilha sem fim, igual não pode haver.
Amá-la-ia de todo o coração,
A sua carne delicada seria meu alimento,
O seu sangue vermelho-vivo minha bebida
E depois ulularia solitário pela noita adentro.
Uma lebre só, não mais queria,
Como é doce a sua carne quente na noite fria
Ah! ter-se-ão apartado para longe de mim
As coisas que dão encanto e sabor à vida?
O pêlo da minha cauda vai sendo grisalho
Os olhos também já não me deixam ver bem
Já há muito morreu a minha esposa amada.
E agora, só e errante, com corças sonho,
Ando só e errante, com lebres sonho,
Ouço o vento soprar na noite de Inverno,
De neve sacio a minha goela ardente,
E a minha pobre alma ao diabo entrego.
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