Nota biográfica

Charles-Pierre Baudelaire (Paris, 9 de abril de 1821 — Paris, 31 de agosto de 1867) foi um poeta e teórico da arte francesa. É considerado um dos precursores do Simbolismo e reconhecido internacionalmente como o fundador da tradição moderna em poesia, juntamente com Walt Whitman, embora tenha se relacionado com diversas escolas artísticas.

Charles Baudelaire – “Hino à beleza” (sem música)

17.10.2013 | Produção e voz: Luís Gaspar

Virás do céu profundo ou surges do abismo,


Beleza?! o teu olhar, infernal e divino, 


Gera confusamente o crime e o heroísmo, 


E podemos, por isso, comparar-te ao vinho.

Conténs no teu olhar o poente e a aurora; 


Expandes os teus odores qual noite de trovoada; 


Teus beijos são um filtro e uma ânfora, a boca,


Tornando o herói cobarde e a criança arrojada.

Vens da treva mais negra ou descerás dos astros? 


Encantado, o Destino é um cão que te segue;


Semeias ao acaso alegrias, desastres, 


E por dominares tudo é que nada te interessa.

Caminhas sobre os mortos, que são o teu gozo;


Das tuas joias, o Horror é das que mais fascina, 


E entre tais enfeites, o próprio Assassínio


Vai dançando feliz no teu ventre orgulhoso.

O insecto, deslumbrado, procura-te a chama, 


Arde, crepita e diz: Benzamos esta luz! 


O apaixonado trémulo, aos pés da sua dama, 


Parece um moribundo a afagar o sepulcro.

Mas que venhas do céu ou do inferno, que importa, 


Beleza! monstro ingénuo, assustador, excessivo! 


Se o teu olhar, teus pés, teu riso, abrem a porta 


De um Infinito que amo e nunca conheci?

De Satanás ou Deus, que importa? 


Anjo ou Sereia, Se tu tornas – ó fada de olhos de veludo,


Ritmo, perfume, luz, ó rainha perfeita! 


-Mais leve cada instante e menos feio o mundo?

(Tradução de Fernando Pinto do Amaral)

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Charles Baudelaire – “Embriague-se”

02.02.2013 | Produção e voz: Luís Gaspar

Devemos andar sempre bêbados.
Tudo se resume nisto: é a única solução.
Para não sentires o tremendo fardo do tempo
que te despedaça os ombros e te verga para a terra,
deves embriagar-te sem cessar.

Mas com quê?
Com vinho, com poesia ou com virtude, a teu gosto.
Mas embriaga-te.
E se alguma vez, nos degraus de um palácio,
sobre as verdes ervas duma vala,
na solidão morna do teu quarto,
tu acordares
com a embriaguez já atenuada ou desaparecida,
pergunta ao vento, à onda, à estrela, à ave, ao relógio,
a tudo o que se passou, a tudo o que gemeu,
a tudo o que gira, a tudo o que canta, a tudo o que fala,
pergunta-lhes que horas são:

São horas de te embriagares!
Para não seres como os escravos martirizados do tempo,
embriaga-te, embriaga-te sem cessar!
Com vinho, com poesia, ou com a virtude, a teu gosto.

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Charles Baudelaire – “Anda, gata linda”

14.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

Anda, gata linda, descansa sobre o meu coração,
E deixa os meus olhos mergulharem nos frios
Poços em brasa dos teus olhos encantados que dardejam
Raios metálicos de verde e ouro.

As minhas mãos fascinadas acariciam à vontade
A tua cabeça e dorso flexível, e quando
O teu corpo eléctrico enche de prazer
Os meus dedos vibrantes e inebriados, então

Transformas-te na minha mulher; pois o olhar dela,
Tal como o teu, Ó mais adorável das criaturas,
É gelado, profundo e cortante como uma lança.

E em torno do seu cabelo e das feições esfíngicas,
Em torno da sua figura morena flutuam, levemente misturados,
Um ar subtil e um perfume perigoso.

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Baudelaire – “Hino à Beleza”

07.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

Virás do céu profundo ou surges do abismo,

Beleza?! o teu olhar, infernal e divino, 

Gera confusamente o crime e o heroísmo, 

E podemos, por isso, comparar-te ao vinho.

Conténs no teu olhar o poente e a aurora; 

Expandes os teus odores qual noite de trovoada; 

Teus beijos são um filtro e uma ânfora, a boca,

Tornando o herói cobarde e a criança arrojada.

Vens da treva mais negra ou descerás dos astros? 

Encantado, o Destino é um cão que te segue;

Semeias ao acaso alegrias, desastres, 

E por dominares tudo é que nada te interessa.

Caminhas sobre os mortos, que são o teu gozo; 

Das tuas joias, o Horror é das que mais fascina, 

E entre tais enfeites, o próprio Assassínio

Vai dançando feliz no teu ventre orgulhoso.

O insecto, deslumbrado, procura-te a chama, 

Arde, crepita e diz: Benzamos esta luz! 

O apaixonado trémulo, aos pés da sua dama, 

Parece um moribundo a afagar o sepulcro.

Mas que venhas do céu ou do inferno, que importa, 

Beleza! monstro ingénuo, assustador, excessivo! 

Se o teu olhar, teus pés, teu riso, abrem a porta 

De um Infinito que amo e nunca conheci?

De Satanás ou Deus, que importa? 

Anjo ou Sereia, Se tu tornas – ó fada de olhos de veludo,

Ritmo, perfume, luz, ó rainha perfeita! 

-Mais leve cada instante e menos feio o mundo?

[Tradução de Fernando Pinto do Amaral]

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