Charles Baudelaire – “Embriague-se”
02.02.2013
Devemos andar sempre bêbados.
Tudo se resume nisto: é a única solução.
Para não sentires o tremendo fardo do tempo
que te despedaça os ombros e te verga para a terra,
deves embriagar-te sem cessar.
Mas com quê?
Com vinho, com poesia ou com virtude, a teu gosto.
Mas embriaga-te.
E se alguma vez, nos degraus de um palácio,
sobre as verdes ervas duma vala,
na solidão morna do teu quarto,
tu acordares
com a embriaguez já atenuada ou desaparecida,
pergunta ao vento, à onda, à estrela, à ave, ao relógio,
a tudo o que se passou, a tudo o que gemeu,
a tudo o que gira, a tudo o que canta, a tudo o que fala,
pergunta-lhes que horas são:
São horas de te embriagares!
Para não seres como os escravos martirizados do tempo,
embriaga-te, embriaga-te sem cessar!
Com vinho, com poesia, ou com a virtude, a teu gosto.
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