Judith Teixeira – “Mais beijos”
20.04.2016 | Produção e voz: Luís Gaspar
Judite dos Reis Ramos Teixeira ou Judith Teixeira (Viseu, 25 de Janeiro de 1880 - Lisboa, 17 de Maio de 1959) foi uma escritora portuguesa. Publicou três livros de poesia e um livro de contos, entre outros escritos. Em 1925 lançou a revista Europa, de que saíram três números. Exemplares do seu livro Decadência (1923) foram apreendidos, juntamente com os livros de António Botto (Canções) e Raul Leal (Sodoma Divinizada), e mandados queimar pelo Governo Civil de Lisboa na sequência de uma campanha contra "os artistas decadentes, os poetas de Sodoma, os editores, autores e vendedores de livros imorais".
20.04.2016 | Produção e voz: Luís Gaspar
Devagar…
outro beijo… ou ainda…
O teu olhar, misterioso e lento,
veio desgrenhar
a cálida tempestade
que me desvaira o pensamento!
Mais beijos!…
Deixa que eu, endoidecida,
incendeie a tua boca
e domine a tua vida!
Sim, amor..
deixa que se alongue mais
este momento breve!…
— que o meu desejo subindo
solte a rubra asa
e nos leve!
Maio – 1925
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30.03.2016 | Produção e voz: Luís Gaspar
Ela passa,
a papoila rubra,
esvoaçando graça,
a sorrir…
Original tentação
de estranho sabor:
a sua boca – romã luzente,
a refulgir!…
As mãos pálidas, esguias,
dolorosas soluçando,
vão recortando
em ritmos de beleza
gestos de ave endoidecida…
Preces, blasfémias,
cálidas estesias
passam delirando!…
Mordendo-lhe o seio
túrgido e perfurante,
delira a flama sangrenta
dos rubis…
E a cinta verga, flexuosa,
na luxuria dominante
dos quadris…
Um jeito mais quebrado no andar…
Um pouco mais de sombra no olhar
bistrado de lilás…
E ela passa
entornando dor,
a agonizar beleza!…
Um sonho de volúpia
que logo se desfaz,
em ruivas gargalhadas
dispersas… desgrenhadas!…
Magoam-se os meus sentidos
num cálido rubor…
E nos seus braços endoidecem
as anilhas d’oiro refulgindo
num feérico clamor!…
E ela passa…
Fulva, esguia, incoerente…
Flor de vicio
esvoaçando graça
na noite tempestuosa
do meu olhar!…
Como uma brasa ardente,
e infernal e dolorosa,
… a bailar…
a bailar!…
(“Noite”- 1925)
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25.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
No meu peito alvo, de neve,
as claras pétalas dos teus dedos,
finas e alongadas,
tombaram como rosas desfolhadas
à luz espásmica e fria
deste entardecer…
E o meu corpo sofre,
ébrio de luxúria, um mórbido prazer!
A cor viva dos teus beijos,
meu amor,
prolonga ainda mais o meu tormento,
na trágica dor
deste desvestir loiro e desolado
do Outono…
Repara agora, como o sol morre
num agónico sorrir
doloroso e lento!…
Noite… um abismo…
sombras de medo!
Tumultuam mais alto os teus desejos!
Sobe o clamor do meu delírio
e a brasa viva dos teus beijos,
num rúbido segredo,
vai-me abrindo a carne em sulcos de martírio!
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16.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
Tu estás doente meu amor, porquê?
Falta-te o sol, a luz, o meu sabor?
Ou queres tu, que ainda eu te dê,
nos meus braços, mais ânsia, mais calor?
Se és tu o sol, a graça, essa mercê
divina que Deus trouxe à minha dor,
exige tudo, a minha vida e crê
que ta darei com alegria, amor!
Se perdes a alegria, minha vida,
perco-me eu a procurar a causa:
minha alegria é também perdida!
Beijemo-nos, meu bem, ardentemente
que venha a morte numa doce pausa
e que nos leve se não és contente!
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16.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
Nos olhos de seda
traçados em viés,
tem um ar tão sensual
o meu Chinês
Vive sobre uma almofada
de cetim bordada,
pintado a cores.
Às vezes
numa ânsia inquieta
que eu não mitigo,
e que me domina,
num sonho de poeta
ou de heroína,
fujo levando
o meu Chinês comigo!
E lá vamos!
Nem eu sei
para que alcovas orientais,
em que países distantes,
realizar
as horas sensuais,
as horas delirantes
com que eu sonhei
Eu e o meu Chinês
temos fugido tanta, tanta vez!
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16.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
Podes dizer que me não amas,
sim, podes dizê-lo,
e o mundo acreditar,
porque só eu saberei
que mentes!
Eu estou na tua alma
como a flama
que devora sob a cinza
as brasas dormentes…
Não creias no remorso
– o remorso não existe!
O que tu sentes
e o que em ti subsiste,
são o rubor da minha ternura
e a chama do meu amor
que em ti
nunca foram ausentes!…
Não julgues, não, que me esqueceste,
porque mentes a ti mesmo
se o disseres
Podes ter os amores que quiseres,
que o teu amor por mim,
como uma dor latente e compungida,
há-de acompanhar sempre
a tua e a minha vida!
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16.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
Era já tarde e tu continuavas
entre os meus braços trémulos, cansados…
E eu, sonolenta, já de olhos fechados,
bebia ainda os beijos que me davas!
Passaram horas!x Nossas bocas flavas,
Muito unidas, em haustos repousados,
Queimavam os meus sonhos macerados,
Como rescaldos de candentes lavas.
Veio a manhã e o sol, feroz, risonho,
entrou na minha alcova adormecida,
quebrando o lírio roxo do meu sonho…
Mas deslumbrou-se… e em rúbidos adejos
Ajoelhou-se… e numa luz vencida,
Sorveu, sorveu o mel dos nossos beijos!
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16.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
Ela passa,
a papoila rubra,
esvoaçando graça,
a sorrir…
Original tentação
de estranho sabor:
a sua boca – romã luzente,
a refulgir!…
As mãos pálidas, esguias,
dolorosas soluçando,
vão recortando
em ritmos de beleza
gestos de ave endoidecida…
Preces, blasfémias,
cálidas estesias
passam delirando!…
Mordendo-lhe o seio
túrgido e perfurante,
delira a flama sangrenta
dos rubis…
E a cinta verga, flexuosa,
na luxuria dominante
dos quadris…
Um jeito mais quebrado no andar…
Um pouco mais de sombra no olhar
bistrado de lilás…
E ela passa
entornando dor,
a agonizar beleza!…
Um sonho de volúpia
que logo se desfaz,
em ruivas gargalhadas
dispersas… desgrenhadas!…
Magoam-se os meus sentidos
num cálido rubor…
E nos seus braços endoidecem
as anilhas d’oiro refulgindo
num feérico clamor!…
E ela passa…
Fulva, esguia, incoerente…
Flor de vicio
esvoaçando graça
na noite tempestuosa
do meu olhar!…
Como uma brasa ardente,
e infernal e dolorosa,
… a bailar…
a bailar!…
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16.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
Pálido, extático,
olhavas para mim.
E as tuas mãos raras,
de linhas estilizadas,
poisavam abandonadas
sobre os tons liriais do meu coxim
Os meus olhos de sonho
ficaram presos tristemente
às tuas mãos!…
– Mãos de doente,
mãos de asceta
E eu que amo e quero a rubra cor dos sãos,
tombei-me a contemplá-las
numa atitude cismadora e quieta
Depois aqueles beijos que lhe dei,
unindo-as, ansiosa, à minha boca
torturada e aflita,
tiveram a amargura
suavemente doce
duma dor bendita!
Mãos de renúncia! Mãos de amargor!
x E as tuas lindas mãos, nostálgicas e frias,
tristes cadáveres
de ilusão e dor,
não puderam entender
a febre exaltada
e torturante
que abrasava
as minhas mãos
delicadas,
– as minhas mãos de mulher!
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09.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
Através dos vitrais
ia a luz a espreguiçar-se
em listas faiscantes,
sob as sedas orientais
de cores luxuriantes!
Sons ritmados dolentes,
num sensualismo intenso,
vibram misticismos decadentes
por entre nuvens de incenso.
Longos, esguios, estáticos,
entre as ondas vermelhas do cetim,
dois corpos esculpidos em marfim
soergueram-se nostálgicos,
sonâmbulos e enigmáticos…
Os seus perfis esfingicos,
e cálidos
estremeceram
na ânsia duma beleza pressentida,
dolorosamente pálidos!
Fitaram-se as bocas sensuais!
Os corpos subtilizados,
femininos,
entre mil cintilações
irreais,
enlaçaram-se
nos braços longos e finos!
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