“Segundo dos Poemas de Infância” de Manuel da Fonseca
28.07.2021
Quando foi que demorei os olhos
sobre os seios nascendo debaixo das blusas,
das raparigas que vinham, à tarde, brincar comigo?…
…Como nasci poeta
devia ter sido muito antes que as mães se apercebessem disso e
fizessem mais largas as blusas para as suas meninas.
Quando, não
sei ao certo.
Mas a história dos peitos, debaixo das blusas, foi um grande
mistério.
Tão grande
que eu corria até ao cansaço.
E jogava pedradas a coisas impossíveis de tocar,
como sejam os pássaros quando passam voando.
E desafiava,
sem razão aparente,
rapazes muito mais velhos e fortes!
E uma vez,
de cima de um telhado,
joguei uma pedrada tão certeira
que levou o chapéu do Senhor Administrador!
Em toda a vila
se falou logo num caso de política;
o Senhor Administrador
mandou vir da cidade uma pistola,
que mostrava, nos cafés, a quem a queria ver;
e os do partido contrário
deixaram crescer o musgo nos telhados
com medo daquela raiva de tiros para o céu…
Tal era o mistério dos seios nascendo debaixo das blusas!
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