Nota biográfica

Fernando Reis Luís, nasceu em Monchique. Licenciado em Gestão Bancária, foi professor, bancário, delegado da Proteção Civil e deputado à Assembleia de República.

Fernando Reis Luís – “Ponto de Encontro”

10.07.2017 | Produção e voz: Luís Gaspar

Não é fácil
Continuar a esperar
Que os amigos voltem
Duma viagem sem fim

É assim que percebemos
Que o infinito
É o supremo destino
Do corpo voando nas nuvens

As pegadas que ficam marcadas no chão
Servirão o aço da memória
Continuando outra espera
Num lugar de sementes
Libertadas nas montanhas de origem
Como próximo ponto de encontro

(Do livro “A Alquimia das Metáforas” – Pinturas de Nunes Silva – Ed. arandis)

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Fernando Reis Luís – “A Voz Fraterna”

07.07.2017 | Produção e voz: Luís Gaspar

A vida é um rio
Mas não é um rio qualquer
É um curso de água continuada
Que nasce límpida na montanha
Entre medronhais e rododendros
E sobe nas escadas da memória
Sim
Porque descer seria fácil
Sobe gravada no sienito
Sem pedir asas às aves
Ou energia aos trovões
Depois apagam-se
As luzernas do luar
E o vapor da alma condensa-se
Tombando cansado na terra
Como neve granizo vento ou chuva
E volta a ser rio palpitante
Penetrando o chão com a voz fraterna
Para renascer nas fendas
Como flores silvestres
Nas madres montanhas da serra

(Do livro “Alquimia das Metáforas”. Ilustrações de Igor Nunes Silva. Ed. aramis)

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Fernando Reis Luis – “Fechei os olhos”

25.07.2016 | Produção e voz: Luís Gaspar

fechei

Fechei os olhos ao ritmo dum tambor volátil
Batendo como um coração sem rédeas Nos anéis da
noite insondável

Senti o frio do areal e segui em caravanas
Atravessando os atalhos da seda
E outros lugares trívios nas rotas dos desertos
Senti o pó e o vento quente
Em trilhos nas ampulhetas das dunas
E segui sem medo das miragens
Em azimutes incertos de astros tremeluzentes
Remarcando os silêncios do cosmos na algidez das noites

Senti as horas alucinadas nas pulsações suspensas
Em tempestades de areia marcando o tempo
E segui itinerante em frente calejando os pés vagabundos
Na distância nómada de roteiros
Em horizontes perdidos nos olhos

Senti a voz em delírio
Antevendo versos bolinados no ar
E segui as imagens esparsas
Das miragens encantatórias do deserto
Multiplicando as palavras dos poemas
E os gestos do magma da escrita
Por todos os oásis que existem na pele

(Poema do livro “Ipsis Verbis”. Ed. “arandis”. Ilustrações de José Maria Oliveira)

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Fernando Reis Luís – “Cavalo de Vento”

25.07.2016 | Produção e voz: Luís Gaspar

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A matéria do lenho do amor
É o instante latente do corpo
No espaço dos túneis do barro moldável

Cavalos de ventos difusos Criando os silvos
da distância Levada no sopro do pó
transparente Em flor pendular do tempo
incerto

Primaveras dormentes em canções
Renovando o sangue e a linfa Para fazer as
correntes dos rios Abrindo abrigos nas
margens Em gestos de gente em abordagem

(Poema do livro “Ipsis Verbis, Ed. “arandis”. Ilustrações de José Maria Oliveira)

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Fernando Reis Luís – “Magnólia”

04.03.2015 | Produção e voz: Luís Gaspar

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Agora que te vais
Que contas tu
Dos beijos que se deram
Na tua sombra
Que contas tu
Dos abraços que se deram
Para sentir a tua dimensão

Que nos relembras de outros tempos franciscanos
Que viste
Que sentiste
Do alto da tua copa
Mirando todo o povoado

Que nos contas tu
Sobre as casas e as ruas estreitas
E os socalcos cavados na montanha
Para desbravar o chão
E fazer crescer os pomares de macieiras

E os campos e os olhares
Que nos relembras das danças nas eiras
E dos cantares ecoados nos vales
Para alentar os almocreves vencendo
Os caminhos pedregosos
No transporte das madeiras
Da cortiça
E da aguardente de medronho

Conta-nos como os serranos
Se vestiam ao domingo
E ornamentavam as ruas com rosmaninho
Para passar a procissão
Conta-nos como se juntavam nas madrugadas
Apanhando a espiga de trigo
E o ramo da oliveira

Conta-nos como era grande a feira
E muito o gado
Quantos eram os saltimbancos
E os trovadores cantando as desgraças
Conta-nos se alguma vez
Os vendedores de banha da cobra fizeram um milagre
Ou se uma sina lida pelas ciganas bateu certo
Ou como eram boas as bolotas torradas e o torrão de alicante
E divertido entrar nas coloridas barracas
Dos espelhos curvos
Ou dos bonecos da cachamorrada

Conta-nos quantas joldras saíam a cantar
As janeiras e os reis
E quantas filhós e copos de medronho conviviam
Com o alforge na recolha dos molhes e farinheiras
E quantas eram as bebedeiras
Conta-nos também de outras bebedeiras
Que seguravam os pendões na procissão
Da quinta-feira nas endoenças

Relembra-nos os tempos
Em que as paredes eram pequenas
Mas as casas eram grandes na sua alma

E tu viste isso tudo
E agora que te vais
E levas muito deste povoado
Morre de pé
Que é como as árvores centenárias devem morrer
E deixa-nos a tua memória toda

(Poema retirado do livro “Nos socalcos da Serra”, de Fernando Reis Luís e com ilustrações de Leando Lamas Ermida. Ed. arandis)

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Fernando Reis Luís – “Contei Primaveras”

04.03.2015 | Produção e voz: Luís Gaspar

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Já contei muitas primaveras
E outras tantas translações
Repetindo os poros do firmamento
Para fazer as noites e os dias
No corpo transitório
Registado nos sulcos do lenho
Do meu eixo polar

Já cantei a algumas das suas flores
E ao verde das folhas
E às pétalas de todas as cores
Fazendo o palco das íris
E os muitos olhares e desejos
Despertados no cio das primaveras
Pelas encostas viçosas da serra

Levo comigo o cheiro das rosas bravas
E as feridas de alguns acúleos
Para relembrar momentos ambíguos
Das montanhas doces e silvestres
Onde ainda nascem alguns frutos
E alguns pirilampos difusos
Para marcar o caminho na noite

(Este poema foi retirado do livro de poesia de Fernando Reis Luís, “Nos socalcos da Serra” e com ilustrações de Leando Lamas Ermida. Ed. arandis)

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