Fátima Fernandes – “Registos”
01.02.2013 | Produção e voz: Luís Gaspar
Fátima Fernandes - O gosto pelas Artes, e entre elas, a Poesia que desde muito pequena escreve, levou-a, em 2004 a entrar na blogosfera com o pseudónimo de Amita, onde a sua escrita se tornou conhecida e apreciada. Já publicou vários livros de poesia.
01.02.2013 | Produção e voz: Luís Gaspar
Ouço-te num qualquer outro registo de dança
Onde pensares e sentires são devolvidos em contracapa
Nua, de cor única e vazia de espelhos
Olho-te e não te vejo
Só os esboços estudados da dança
Permanecem em meus ouvidos como inconstância
De desafios musicados
E de suspiros
E de muros levantados
E de búzios fendidos
Por onde se escapa o que nem a brisa alcança
Olho-te por entre o arvoredo de um mar salgado
Agitando formas de cotovelos apoiados nas águas
Numa outra de mim que o registo fez parte
Quando fendiam as paredes da casa
Agora brancas, imaculadas
Pelo silêncio sorridente e ameno das asas
Que descubro serenamente e destapo
Nas cores luzentes das sonoridades
Que enfeitam e alegram o espaço
No repouso cantante, suave
Do regaço que eleva e embala
Podcast (estudio-raposa-audiocast): Download
01.02.2013 | Produção e voz: Luís Gaspar
Quando amanhece
fecho os olhos serenos
e no vazio procuro o som do silêncio
que ansioso me aguarda
Mergulho nas águas tépidas e cristalinas do voo
e a voz que me canta
acontece
Quão breve instante…
Que adianta!
Fogem as letras espavoridas
e se escondem tímidas
num espaço
que para já não alcanço
nem agarro
Desperto muda
silenciada e crua
pelas vozes rodeantes que me falam
da atenção exigida
da futilidade do dia
e do espanto
Então parto
para outra estória
outra vida
em breve-longa pausa
E sobre a água teço passos
Podcast (estudio-raposa-audiocast): Download
01.02.2013 | Produção e voz: Luís Gaspar
Nos teus braços de palavras
Me enrolam carícias mudas
Qual rosa rubra despontada
Que seu doce aroma espalha
E pelo espaço perdura
Soltam-se pelas cidades, inter muros
Os pontos que no Tudo abarcam
Estilhaços esvaídos em leve fumo
Quando em ti me lês nos traços
Desprendidos, planos, profundos
Sob as longas raízes criadas
Me enfeitas e desnudas
A serenidade dos passos
O beijo que o vento permuta
Esse encontro inesperado
Num qualquer presente-passado
Feito de essência e candura
Assim me enlaçam palavras
Fragrâncias de rosa rubra
Podcast (estudio-raposa-audiocast): Download
01.02.2013 | Produção e voz: Luís Gaspar
(Poema dedicado à filha, grávida, de gémeos)
Mãe
Escuta a brisa que meu ventre abre
Na terra dos sonhos o canto das pequeninas coisas
De braços estendidos o enlevo do sorriso que as afaga
Aquele murmurejar de água soletrando o rio
Plácido
Mãe
Sente os dois mundos que em mim trago
Saboreando o néctar das coisas invisíveis e cândidas
Entre a música e a leveza da dança
No balanço certo das outonais cores
Em folhas irisadas e suaves
Seis meses, mãe, são caminhados
Na voz das pequeninas coisas
Sob o azul da luz e o verde dos laços
Podcast (estudio-raposa-audiocast): Download