Cristina Guedes – “Aqui jaz: saudade” (Sem música)
16.09.2013 | Produção e voz: Luís Gaspar
Alzira Guedes, nasceu em 21 de Julho de 1968. Psicóloga clínica e docente. Escreve porque, diz, “escrever é uma continuidade de respirar.”
16.09.2013 | Produção e voz: Luís Gaspar
Antigamente era fácil
falar de rotinas ou de cansaços,
de olheiras e de corpos partidos,
porque nada disso me deixava mal.
Na segurança do amor ou no escaldar
da paixão não cabem queixas ou indagações.
É um quebrar de corpos sem dor,
um esgotar de horas nocturnas
onde a rotina do teu suor na minha pele
causava dependência do prazer,
mamilos espetados furando a palma das tuas mãos,
ancas viciadas no samba dos teus quadris,
num ir e vir, beijos que caíam,
desabavam por pescoços e bocas por coxas e olhos.
Equiparava as tuas palavras sussurradas e
sedutoras aos murmúrios de fundo das conchas do mar,
á brisa redentora do final da tarde na colina,
antigamente eras o mel que me adoçava os dias.
É por isto que escrevo, com receio
de que as minhas memórias se percam
no fundo do mar que já não somos,
numa demência de rituais e febres,
num transladar de novas direcções e objectivos.
Sou eu a praguejar, ainda viva, ainda presente
nos meus deslumbramentos acerca de ti.
Ainda presa a momentos de luxo
nesse tal planeta de afectos onde o teu nome
em néon ilumina corredores e salões,
esquinas e ruas convexas.
Se te doer o presente, grava-me editada em mp3,
pra que possas continuar a viver do passado que já fomos, tu e eu.
Mas nesse dia jorra-me pétalas em cima
e beija o rosto já manchado de humidade,
logo abaixo onde diz : Aqui jaz Saudade.
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26.07.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
dedos devorando pressa e tempo
urgência desejo, arfar, corrida
negação da paz esta guerra
fúria que exige ser combatida.
fechar os olhos ter-te onde o desejo queima mais perto
fonte generosa, drink indigesto
testa em brasa, beber-te
toco o orgasmo e esgoto o cio
apalpo o meu seio, ardente de frio
invento beijos, flagelo hemisférios
provoco-me, então, o doce arrepio
vibramos os dois, em camas diferentes,
no vazio do nosso leito
combato alguns dos teus medos, ainda sinto o teu coração correr
qual cavalo, no meu peito entre o lençol de algodão
e agora já calmos, os teus nos meus dedos.
masturbação.
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30.04.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
Quantos segundos contados pelo marcar do pulso
ora apressados, ora descontentes
no vagar que todas as memórias têm e na dor
que muitas arrastam
Não há dia nenhum que detenha a memória viva
nem leis nem regras
que afinem e encaixem sentimentos
no politicamente correcto
Não há dia nenhum em que o teu rosto não surja do nada
pra me sacrificar ou as tuas palavras mordazes pra me sangrar
Não há e nem vai haver forma de conter o rio
de dor que ficou quando decidiste esconder e mentir
omitir ou devassar sentidos e vidas
Sabes, não sabes?
Que dia nenhum passará
sem que estejas presente neste rio!
Não haverá dia nenhum e nem isso podes impedir.
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30.04.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
Antigamente era fácil
falar de rotinas ou de cansaços,
de olheiras e de corpos partidos,
porque nada disso me deixava mal.
Na segurança do amor ou no escaldar
da paixão não cabem queixas ou indagações.
É um quebrar de corpos sem dor,
um esgotar de horas nocturnas
onde a rotina do teu suor na minha pele
causava dependência do prazer,
mamilos espetados furando a palma das tuas mãos,
ancas viciadas no samba dos teus quadris,
num ir e vir, beijos que caíam,
desabavam por pescoços e bocas por coxas e olhos.
Equiparava as tuas palavras sussurradas e
sedutoras aos murmurios de fundo das conchas do mar,
á brisa redentora do final da tarde na colina,
antigamente eras o mel que me adoçava os dias.
É por isto que escrevo, com receio
de que as minhas memórias se percam
no fundo do mar que já não somos,
numa demência de rituais e febres,
num transladar de novas direcções e objectivos.
Sou eu a praguejar, ainda viva, ainda presente
nos meus deslumbramentos acerca de ti.
Ainda presa a momentos de luxo
nesse tal planeta de afectos onde o teu nome
em neon ilumina corredores e salões,
esquinas e ruas convexas.
Se te doer o presente, grava-me editada em mp3,
pra que possas continuar a viver do passado que já fomos, tu e eu.
Mas nesse dia jorra-me pétalas em cima
e beija o rosto já manchado de humidade,
logo abaixo onde diz : Aqui jaz Saudade.
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30.04.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
Nas tuas mãos, o corpo nu, embriagado
bebe sequioso a poção que para mim
houveras preparado,
e a valsa dos teus dedos continua,
na minha alma ganhando trono
depois de me beberes inteira,
branca e nua…
Qual semen desmaiado, ensaias novo tango,
passo doble e o meu sexo corresponde
ritmado, ás danças tântricas fazendo lei.
E a manhã nasce com a tua coroação,
clitóris e glande cansados,
poros e moléculas gritando:
– já és meu senhor, meu rei!
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30.04.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
abrir a boca ao beijo
abrir as pernas ao segredo
que me vais contar com a mão
abrir o sexo á palavra quente
abrir-me em copas, ardente
deitar as pálpebras no cobertor
da tua pele e beber mel
vou sentir-te distante
dentro de mim
abrir-te o desejo guardado
e provar de ti a noite,
o nosso ardor de tempo cozinhado
vou bordar um sem-nexo,
mastigar o poema revelado,
esgrimir esse teu sexo
Virás pedir-me pela manhã
o café e a nicotina
sussurrar o amor em surdina
espreguiçar-me ei no teu abraço e
sem grande estardalhaço
enroscar-me novamente
fazer do breve eternamente
e oferecer-me ao diálogo carnal
das nossas mãos urgentes
deslumbrar-me ás
com os mistérios do Sabugal e,
no teu sexo, eu, mascaro-me de gueixa
e serves-me uma e outra vez (até esgotar),
o Carnaval…
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30.04.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
Amas e dizes exijo e mostras intolerância.
Amar assim sai caro
Com juros, impostos e lucros,
que só o fazes até ao sinal vermelho
que depois deles já só odeias
e dizê-lo é feio. E desfeias o acto
Amar, verbo transitivo conjugado
no avesso em que te esqueço ou te possuo.
Eu que te não sei possuir mais do que amar é
não ser incondicional mas voluntário.
Já é bom sem magoar
este verbo, afinal
conjugado no singular.
Eu amo-te com reticências.
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30.03.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
dedos devorando pressa e tempo
urgência desejo, arfar, corrida
negação da paz esta guerra
fúria que exige ser combatida.
fechar os olhos ter-te onde o desejo queima mais perto
fonte generosa, drink indigesto
testa em brasa, beber-te
toco o orgasmo e esgoto o cio
apalpo o meu seio, ardente de frio
invento beijos, flagelo hemisférios
provoco-me, então, o doce arrepio
vibramos os dois, em camas diferentes,
no vazio do nosso leito
combato alguns dos teus medos, ainda sinto o teu coração correr
qual cavalo, no meu peito entre o lençol de algodão
e agora já calmos, os teus nos meus dedos.
masturbação.
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