“Lágrimas” de Cesário Verde.
07.07.2022
Ela chorava muito e muito, aos cantos,
Frenética, com gestos desabridos;
Nos cabelos, em ânsias desprendidos,
Brilhavam como pérolas os prantos.
Ele, o amante, sereno como os santos,
Deitado no sofá, pés aquecidos,
Ao sentir-lhe os soluços consumidos,
Sorria-se cantando alegres cantos.
E dizia-lhe então, de olhos enxutos:
— Tu pareces nascida de rajada,
Tens despeitos raivosos, resolutos;
Chora, chora, mulher arrenegada;
Lacrimeja por esses aquedutos…
Quero um banho tomar d’água salgada.
Porto, Diário da Tarde, 21 de Janeiro de 1874
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