Nota biográfica >>

António Duarte Gomes Leal (1848-1921) nasceu em Lisboa. Era filho de um funcionário do Estado. Frequentou o Curso Superior de Letras, não chegando a terminá-lo. Ao ler as obras de Marx, Darwin, Renan e Proudhon, entusiasmou-se com o Socialismo, aproximando-se ideologicamente de Antero de Quental e Oliveira Martins.

“Autópsia do Amor”, poema de Gomes Leal.

10.09.2021

O Amor — essa paixão romanesca e fagueira —
que os vates têm cantado em bemol comovido,
é, na forma, uma coisa assaz brusca e grosseira,
como o assalto da fera e o ataque do bandido.

Tal e qual como o lobo assalta a cordeira,
a empolga e lhe crava o colmilho atrevido,
assim ataca o Amor. — São da mesma maneira
o Espasmo, a Fúria, o Uivo, o Estertor, o Rugido.

Nas contorsões do Cio e os seus enlaçamentos,
há o ardor da Serpente, a enroscar-se nas preias,
e a estrangular o touro enorme e mugidor.

E quer cheire ao sertão, ou da Lais aos unguentos,
Nos rosais, num covil, ou de Nero nas ceias,
— são sempre os mesmos ais, o Pranto, o Espasmo, a Dor.

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