Nota biográfica >>

Francisco José Tenreiro, foi um geógrafo e poeta são-tomense. Foi docente no Instituto de Ciências Sociais e Política Ultramarina, atual Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa. (Wikipédia)

Francisco José Tenreiro – “Canção do mestiço”

22.01.2016

valdemar_doria
(Pintura de Valdemar Dória)

Mestiço!


Nasci do negro e do branco
e quem olhar para mim
é como quem olhasse
para um tabuleiro de xadrez:
a vista passando depressa
fica baralhando cor
no olho alumbrado de quem me vê.

Mestiço!

E tenho no peito uma alma grande
uma alma feita de adição
como 1 e 1 são 2.
Foi por isso que um dia
o branco cheio de raiva
contou os dedos das mãos
fez uma tabuada e falou grosso
mestiço!
a tua conta está errada.
Teu lugar é ao pé do negro.


Ah!
Mas eu não me danei…
E muito calminho
arrepanhei o meu cabelo para trás
fiz saltar fumo do meu cigarro
cantei do alto
a minha gargalhada livre
que encheu o branco de calor!…

Mestiço!

Quando amo a branca
sou branco…

Quando amo a negra
sou negro…

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