Nota biográfica >>

Eugénio de Andrade, pseudónimo de José Fontinhas (Póvoa de Atalaia, 19 de Janeiro de 1923 — Porto, 13 de Junho de 2005). Apesar do seu enorme prestígio nacional e internacional, Eugénio de Andrade sempre viveu distanciado da chamada vida social, literária ou mundana, tendo o próprio justificado as suas raras aparições públicas com «essa debilidade do coração que é a amizade».

Fernando Pinto do Amaral – “Para um retrato de Eugénio”

20.11.2015

jose_rodrigues

São coisas muito frágeis – uma sede
a transformar-se em água ou num sorriso
aberto à flor dos lábios,
a música de um corpo enquanto é verão
e sobretudo a chama de um olhar
que se entrega à primeira alegria,π
ao primeiro desejo.

Ele sabe, sempre soube que é difícil ser
fiel ao esplendor de tudo isso, à
melodia ou ao rumor do sangue. É um
segredo roubado à terra ou à infância
como se a voz dançasse.

Confidente das aves quando chegam
do sul
ou cúmplice da luz que se demora
à passagem do vento,
mal o vejo daqui
e a sombra que se move entre os seus olhos
é a lição do dia quando morre,
esse rasto de lume que o sol deixa
a arder no mar.

Poema de Fernando Pinto do Amaral, busto de José Rodrigues, ambos retirados do livro “Aproximações a Eugénio de Andrade”, editado pela ASA com o patrocínio a BIAL, coordenação de José da Cruz Santos e Direção gráfica de Armando Alves.

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