Nota biográfica >>

O rimance (forma arcaica de romance) ou xácara é o termo que, na literatura peninsular, equivale à balada europeia, curto poema épico cantado, originalmente popular e de transmissão oral.

Rimance – “A Nau Catrineta”

21.06.2012

Lá vem a Nau Catrineta,
Que tem muito que contar!
Ouvide, agora, senhores,
Uma história de pasmar.

Passava mais de ano e dia,
Que iam na volta do mar.
Deitaram sola de molho,
Para o outro dia jantar.

Mas a sola era tão rija,
Que a não puderam tragar.
Deitaram sortes ao fundo,
Qual se havia de matar.

Logo a sorte foi cair
No capitão general.
– Sobe, sobe, marujinho,
Àquele tope real,

Olha se enxergas Espanha,
Areias de Portugal.
– Alvíssaras, capitão,
Meu capitão-general!

Já vejo terras de Espanha,
Areias de Portugal.
Mais enxergo três meninas,
Debaixo de um laranjal.

Uma sentada a coser,
Outra na roca a fiar,
A mais formosa de todas,
está no meio a chorar.

– Todas três são minhas filhas,
Oh, quem mas dera abraçar!
A mais formosa de todas
Contigo a hei-de casar.

– A vossa filha não quero,
Que vos custou a criar.
– Dar-te-ei tanto dinheiro
Que o não possas contar.

– Não quero o vosso dinheiro
Pois vos custou a ganhar.
– Dou-te o meu cavalo branco,
Que nunca houve outro igual.

– Guardai o vosso cavalo,
Que vos custou a ensinar.
– Dar-te-ei a Nau Catrineta,
para nela navegar.

– Não quero a Nau Catrineta,
Que a não sei governar.
– Que queres tu, meu gajeiro,
Que alvíssaras te hei-de dar?

– Capitão, quero a tua alma,
Para comigo a levar.
– Renego de ti, demónio,
Que me estavas a tentar.

A minha alma é só de Deus,
O corpo dou-o eu ao mar.
Tomou-o um anjo nos braços,
Não no deixou afogar.

Deu um estouro o demónio,
Acalmaram vento e mar.
E à noite a Nau Catrineta,
Estava em terra a varar.

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