Nota biográfica >>

Leonor de Almeida Portugal de Lorena e Lencastre (Lisboa, 31 de outubro de 1750 — Benfica, 11 de outubro de 1839) foi uma nobre e poetisa portuguesa. Conhecida como "Alcipe".

Marquesa de Alorna – “Oferenda aos mortos”

10.01.2012

Aquele outeiro sombrio
está de névoas coberto;
escorre entre canas, perto,
fraco e murmurando, um rio.
Naquele negro pinhal,
como tocha funeral,
brilha modesta candeia,
que ao pastor pobre alumeia
com a luz embaciada.
Vem por corvos arrastada
a Tarde.
A luz apenas das estrelas arde!…
Que pavor
espalha em todo o campo a minha dor!…
Das frestas dos edifícios
vergonhoso mocho voa,
e com seus uivos atroa
os Génios dos malefícios;
saem Fadas peregrinas
a dançar sobre ruínas,
e vêm por entre perigos
gnomos, trasgos, inimigos.
Alumeia
o pirilampo incerto esta coreia.
Que pavor
espalha em todo o campo a minha dor!…
Estão todas apagadas
as luzes da Outra-Banda;
pelas praças ninguém anda,
vagam as sombras caladas.
Naquele triste convento
dobra o sino sonolento;
o ar cos sons esmorece.
O horizonte empalidece:
o vapor autumnal
cobre-o de um véu fatal,
sombrio.
Suspira o vento e nasce o calafrio
Que pavor
espalha em todo o campo a minha dor!…
(…)
Com teu clarão moderado
que objecto me estás mostrando,
que me estás afigurando,
crepúsculo descorado?
Sombra majestosa e cara,
que nas mãos da Parca avara
enches todo o meu sentido!
Es tu, Armínio querido?
Se te retrata a saudade,
apaga as cores a realidade.
Entretanto,
o teu túmulo lava este meu pranto.
Que pavor
espalha em todo o campo a minha dor!…
Sobre o teu marmóreo altar,
onde oculto me magoas,
de plátano cinco c’roas
venho hoje depositar.
Recebe Armínio a mais pura;
duas leve-as a ternura,
de meu pranto comovida,
a Márcia, a Lília querida;
aos dois penhores
dos nossos tristes, doces amores,
condoída,
of’reço duas, of’recera a vida.
Que pavor
espalha em todo o campo a minha dor!…

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