Rui Diniz – “Ode aos declamadores”

21.02.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

Não há poesia sem declamador.
É o declamador que faz a poesia; é ele quem constrói o mito,
é ele que lê o Ouro nas palavras que uns lêem vulgares,
outros nem tanto, seja em voz alta para os outros
ou para si em pensamento…
sim, porque não se pode declamar no pensamento?
Nada o impede.
Na ligação que tudo une, um pensamento faz a diferença!
Destrinça-se dos outros, marca a cadeia quiçá infinita
de rolantes modas, media e medianas…
Mas só um pensamento, dito ou pensado,
na pureza da postura de quem se faz mártir por opção
e decide ser veículo para o que tanto embebedou o poeta
pode ser marcante, pode de facto ser divino!
O declamador é como um ourives.
Ele labuta dentro de si os fios da sua própria existência
fundindo-os com os da existência de outrem
em jóias caras distribuídas a troco de nada.
O poeta dá o ouro cru, a pedra lascada,
o declamador dá tudo, a vida,
a voz, o pensamento, a alma
e no fim é quem fica com nada.
Fica com nada porque já de seu tinha dado tudo…
ao poeta.
O poeta é o mineiro,
o declamador é o artista.
Bem ditos sejam os artistas!

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Rui Diniz – “Minhau”

17.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

De onde vim?
Queres saber de mim?
Cheio de ego absurdo,
sou altivo e peludo;
como chamam por mim?
Tareco ou Moisés?
Miiinhão! Que o caminho é dos pés,
e se aterro num quintal
é a comida que é igual
à fome dura que me fez!

Noutro dia chamei “pechincha”
a uma gatinha que reliiiincha,
quando sente em sua sela o manto
do meu trote bravio e manso!

Mas miiiinhaaaaau…
Sou um gatinho fedorento…
sou um gatinho pachorrento!
Paciente com a vida,
inconsciente da saída!
E se noutra vida não for gato não sei…
se não serei de uma selva humana
El-Rei!

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Rui Diniz – “Momentos”

17.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

Piano de fundo,
é Jarrett em Viena,
um murmúrio
na roupa
que largamos em cena…
Umas mãos saudosas,
suaves e quentes,
invadem
teus espaços
incandescentes…
A boca de nós dois
resolve o mistério
por detrás
do sabor
de um beijo sério…
As verdades que vestimos
deixámos à porta,
que aqui dentro,
o momento,
é só o que importa…
Tens na pele
marcado
o mestrado da vida
e eu tenho na minha
suavidade contida…
Gritas e gemes
no teu mar revolto,
arrepios
atravessam-te
quando te volto…
Com as mãos na parede
eu entro em teu corpo,
vês que na verdade
ele tem estado
morto…
As mãos saudosas,
que agarram o arrepio,
são vivas lembranças
do teu rodopio…
Deixaste-me o corpo,
escorrendo prazer,
encontrei-te
nas nuvens
e refiz-te Mulher…
Se o orgasmo que soltas
for um grito infinito,
nós dois cantaremos
no prazer
deste calor…
bendito.

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