“Noite Árvore”, poema de Luiza Neto Jorge.
08.09.2022
Noite única noite singular impressa
consagração das chuvas e das flores violadas
dos pássaros algemados pela fuga
dos silêncios nus prostituídos
das alcachofras indecisas alcachofras em
sangue das turbinas de aço onde as estrelas
escorrem
crescem árvores mais definitivas pálpebras
trémulas da noite
é o muro que eu recrio a cal sem vazios diários
todos de verdade nós todos férteis salvos
todos veias claras nós sementes
nós o susto fecundo de vivermos
nós os números e as letras e os desenhos
ah matem-me de noite punhais híbridos
sentinela das fronteiras extintas sentinela
última da noite
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