Nota biográfica >>

Luís Castro Mendes, (Idanha-a-Nova 1950) Escritor português. Formado em Direito pela Universidade de Lisboa (1974), seguiu a carreira diplomática, facto que o tem feito viver um pouco por todo o mundo.

“Sonho”, poema de Luís Castro Mendes.

11.12.2021

Numa casa de vidro te sonhei.

Numa casa de vidro me esperavas.

Num poço ou num cristal me debrucei.

Só no teu rosto a morte me alcançava
.

De quem a morte, por terror de mim?

De quem o infinito que faltava?

Numa casa de vidro vi meu fim.

Numa casa de vidro me esperavas.


Numa casa de vidro as persianas

desciam lentamente e em seu lugar

a noite abria o escuro das entranhas

e o teu rosto morria devagar.


Numa casa de vidro te sonhei.

Numa casa de vidro me esperavas.

Fiz do teu corpo sonho e não olhei

nas palavras a morte que guardavas.


Descemos devagar as persianas,

deixámos que o amor nos corroesse

o íntimo da casa e as estranhas

cerimónias do dia que adoece.


Numa casa de vidro. Num espelho.

Na memória, por vezes amargura,

por vezes riso falso de tão velho,

cantar da sombra sobre a selva escura.


Numa casa de vidro te sonhei.

No vazio dessa casa me esperavas.

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