“Gozo e Dor” de Almeida Garrett.
11.09.2021
Se estou contente, querida,
Com esta imensa ternura
De que me enche o teu amor?
— Não, ai, não! Falta-me a vida,
Sucumbe-me a alma à ventura:
O excesso de gozo é dor.
Dói-me a alma, sim, e a tristeza
Vaga, inerte e sem motivo,
No coração me poisou.
Não sei se morro ou se vivo,
Porque a vida me parou.
É que não há ser bastante
Para este gozar sem fim
Que me inunda o coração.
Tremo dele, e delirante
Sinto que se exaure em mim
Ou a vida ou a razão.
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