Nota biográfica >>

Alexandre Manuel Vahía de Castro O'Neill (Lisboa, 19 de Dezembro de 1924 - Lisboa, 21 de Agosto de 1986), ou simplesmente Alexandre O'Neill, descendente de irlandeses, foi um importante poeta do movimento surrealista.

Alexandre O’Neill – “A Internacional Negra”

14.03.2017

«A INTERNACIONAL NEGRA»
OU «OS MAUS PASTORES»
(Uma amostra pastichada do anticlericalismo oportunista de Arthur Corvelo, o poeta criado por Eça de Queiroz.)

Negros serventes de um estéril dogma,
Que formigais por toda a parte, a esmo,
Que entrais no palácio e na choupana
E que comeis faisão, trincais torresmo;

Que ouvis as confidências da viúva
E os anseios da virgem inocente.
Que sois cúmplices de tanta sinecura,
Lúbrico o olho e aguçado o dente.

Que jamais recusais vossos favores
À herdeira rica que vos presenteia,
Que tendes na mão tantos poderes
E atraiçoais a Ele em cada ceia;

Que rebolais, glutões, a vossa pança,
Arrotando suficiência e despautério;
Que chuchais da Filosofia e da Ciência
E dais aso — triste vezo! — ao adultério;

Que ao púlpito subis e, com voz mansa,
Pregais a Moral só p’ra os demais;
Que recebeis d’esmolas gorda tença
E o melro, crudelíssimos, matais;

Ó vós que sois, batina roçagante,
Os melífluos falsários da Verdade,
Os Povos hão-de dar-vos recompensa
E enxotar-vos, qual corvos, da Cidade!

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