Pedro Homem de Melo – “Evocação” (De Eugénio de Andrade)
03.01.2016
Ao café de S. Paulo, quantas vezes,
Outrora fui buscar-te!
Sentíamo-nos ambos portugueses
E ocidentais, em arte.
Do Jardim de S. Lázaro chegava
Um apelo de tília e de açucena
E aquele aroma, cálido, embalava
A carne, loira num, no outro, morena.
Roma, Londres, Paris (talvez Nínive…)
Cercavam-nos então.
E aquelas ilusões
que nunca tive
Poisavam-me na mão…
Ó lucidez da nossa inconsciência!
Voz que, no azul do ar, se diluía…
– Eugénio? – Pedro. (Eugénio – a inteligência;
Pedro – o instinto).
E despontava o dia!
Teus versos eram, sempre, madrugada
Diáfana, tão pura!
E eu dizia-te adeus, de alma lavada,
Mergulhando, depois, na noite escura…
Poema de Pedro Homem de Melo, ilustração de Artur Bual, ambos retirados do livro “Aproximações a Eugénio de Andrade”, editado pela ASA com o patrocínio a BIAL, coordenação de José da Cruz Santos e Direção gráfica de Armando Alves.
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