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A primeira página de grandes obras da literatura.

“O Corsário dos Sete Mares”, de Diana Barroqueiro

29.12.2013

Fernão Mendes Pinto é o exemplo vivo do aventureiro português do século XVI, que embarcava para o Oriente com o fito de enriquecer. Curioso, inteligente, ardiloso e hábil, capaz de todas as manhas para sobreviver, vai tornar-se num homem dos sete ofícios, sendo embaixador, mercador, médico, mercenário, marinheiro, descobridor e corsário dos sete mares – Roxo, da Arábia, Samatra, China, Japão, Java e Sião – por onde, durante vinte anos, navegou e naufragou, ganhou e perdeu verdadeiros tesouros, fez-se senhor e escravo, amou e foi amado, temido e odiado.
(…)
Em sete mares se divide o romance, por onde o leitor, na pele das personagens, fará uma intrigante viagem no Tempo, ao encontro de si próprio e de mundos e povos antigos, tão diferentes e ao mesmo tempo tão semelhantes, uma peregrinação na busca incessante de fortuna, encarnada na demanda da mítica Ilha do Ouro.

Carta d’el-rei D. Manuel I ao Papa Leão X:
(…) Com a ajuda de Deus, descobrimos aquele poderosíssimo chefe dos índios e etíopes cristãos, o Preste João, senhor da Província da Abissínia. (…) Nossos antepassados esforçaram-se por descobrir novas terras, mais para benefício da cristandade do que em proveito próprio; nós, seguindo seus passos, fomos melhor afortunados do que eles e descobrimos a índia e muitas outras províncias. A nós coube unirmo-nos com este grande e poderoso príncipe, que muito desejava nossa amizade e aliança e há alguns anos enviou um embaixador com cartas e presentes e um bocado do lenho da verdadeira cruz.
(…) Finalmente a nossa armada chegou agora às praias e portos do Preste João, e depois de ter sabido alguma cousa daquela gente e distrito, tanto quanto o permitia a brevidade do tempo, e assinar um tratado, e enviar ao Preste João seu próprio embaixador com alguns dos nossos homens, para investigar devidamente os costumes, religião e outros particulares da província. (…)
Lisboa, 8 de Maio de 1521
Dezasseis anos tinham passado sobre a carta jubilosa acima transcrita, que el-rei D. Manuel enviara ao Papa Leão X com a notícia da descoberta do reino do Preste João das índias, pouco tempo antes da morte de ambos e da chegada a Lisboa de Fernão Mendes Pinto, aos dez anos de idade. Se, então, alguém lhe tivesse dito que haveria de visitar o encoberto imperador cristão da Abássia, tomá-lo-ia como chiste ou zombaria, por lhe parecer coisa impossível, contudo, a realidade que se desdobra ante os seus olhos confirma-o.
Fernão sente nas costas a dureza redonda do mastro onde se apoiou, em busca da sombra protectora da vela, para contemplar à sua guisa Daqhano, o porto de Arquico, no mar Roxo, que se acerca velozmente
de encontro ao focinho da Silveira. Com a fusta a correr sobre as ondas como um corcel em campo aberto, reconhece quão grande era a sua ignorância das coisas do Oriente que, ao ver pela primeira vez aquele tipo de embarcação à sua chegada a Diu, o levara a desdenhá-la por lhe parecer fraca e perigosa.

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