Eugénio de Andrade – “Adeus (Como se houvesse…)”
03.12.2013
Como se houvesse uma tempestade
escurecendo os teus cabelos, ou se preferes,
a minha boca nos teus olhos
carregada de flor e dos teus dedos;
como se houvesse uma criança cega
aos tropeções dentro de ti, eu falei em
neve, e tu calavas a voz onde contigo
me perdi.
Como se a noite viesse e te levasse, eu
era só fome o que sentia; digo-te
adeus, como se não voltasse ao país
onde o teu corpo principia.
Como se houvesse nuvens sobre nuvens, e
sobre as nuvens mar perfeito, ou se
preferes, a tua boca clara singrando
largamente no meu peito.
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