Helena Maltez – “Silêncio”
01.02.2013
bate à porta o silêncio, mando-o entrar,
nas paredes, as sombras reflectidas por um candeeiro
de mesa, tomam cor. arrepio-me, sinto frio. cinzento, o
silêncio senta-se ao meu lado, segura as minhas mãos
gélidas e roxas, sente o meu medo e acaricia-me.
descubro nas sombras, um rosto delineado, parece-me
o teu, com os olhos cheios de brilho, num tom esverdeado.
és tu o silêncio!
o silêncio que escuto e me abraça.
irrompem no meu corpo palavras tuas, misturadas com
o tilintar do frio que há dentro de mim.
entramos no nevoeiro dos sonhos, eu e o silêncio,
de mãos dadas perseguimos um rasto de luz, construído
de objectos de um tempo que cresce.
procuro esse tempo, a luz do teu olhar mostra-mo
murcho, disforme e carregado de sentires.
flutuamos unidos, no crepúsculo embriagado
das noites de ninguém. pressenti nos teus gestos o quanto amei
e embalamo-nos a dor sem medo de nos destruirmos.
fico para sempre ligada ao silêncio como um pacto de
sangue, alimentamo-nos de secretos desejos.
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