Eusébio Tomé – “Ah, se todos fossem como o avô”
05.07.2012
Quando penso em vinho penso no avô
homem do campo arrostando com o sol
parcimonioso, assim como eu sou
afoito na vida e moderado c’o briol
Apenas bebia em ocasiões particulares
ao matar de bicho matinal
ao chegar cedo aos pomares
a meio da manhã, nalgum pinhal
Bebia bem ao almoço, lá p’rás treze
à tarde nem tanto, nada disso
só para matar a sede, várias vezes
e outras com uns nacos de chouriço
De regresso ao lar nada de excessos
Uma breve paragem na taberna
sorvendo de passagem dois canecos
e ala que se faz tarde pela berma
Na ceia farta – janta de trabalhador
permitia-se uma certa relaxação
comia bem, quase com amor
e despejava à vontade meio garrafão
Depois falava e era eloquente
Lembrando que o vinho era dádiva de Deus
sorvia um copinho de aguardente
e vituperava bêbados e ateus
Por fim ia recuperar de toda a canseira
ternamente à avó dando a mão
sabendo consolado que à cabeceira
repousava bem cheio um canjirão
Ah!, se todos fossem como o avô…
cumpria-se o velho desígnio da Nação
embora doendo a quem calhou
matava-se bem a fome a um milhão
(Poema que participou num concurso organizado pelo blogue Porosidade Etérea)
Podcast (estudio-raposa-audiocast): Download