Vera Sousa Silva – “Confissões de uma vítima de violência doméstica”
27.06.2012
Sou um corpo que deambula ao acaso, que
vive com medo todo o dia. Amostra de ser
mal amado sem conhecer felicidade e
alegria.
Uma mulher constantemente criticada que
chora apenas escondida consciente que
não vale nada e a imagem totalmente
denegrida.
Escondo os hematomas como sei.
Habituei-me há muito a mentir… Vivo
uma vida como nunca pensei com a maior
parte do tempo a fingir.
Esta mão, assim queimada, e a doer, é
porque sou tão distraída… Meti-a numa
panela a ferver e fiquei tão arrependida.
Tapo as nódoas negras com roupa
de Inverno, mesmo no Verão.
Apenas porque sou meia louca
passo a vida a cair ao chão.
A boca, assim cortada, foi
apenas porque sorri… Não sei
estar calada! Apanhei porque
mereci.
Quando parti o braço direito foi
porque me maquilhei nesse dia. Mas
afinal, foi bem feito, porque parecia
uma vadia.
0 meu corpo está tão cansado não
aprendo a me comportar para viver
bem com meu amado, que tudo faz
por me amar.
Farta dos meus erros e maldade subo
até ao vigésimo andar! Salto, enfim,
para a liberdade, e já sou feliz… a
voar!
(Do livro “Bipolaridades”. Ed. Lua de Marfim.)
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