Rimance – “A Bela Infanta”
20.06.2012
Estava a bela infanta
No seu jardim assentada,
Com o pente de oiro fino
Seus cabelos penteava.
Deitou os olhos ao mar
Viu vir uma nobre armada;
Capitão que nela vinha,
Muito bem que a governava.
– “Dize-me, Ó capitão
Dessa tua nobre armada,
Se encontraste meu marido
Na terra que Deus pisava.”
– “Anda tanto cavaleiro
Naquela terra sagrada…
Dize-me tu, Ó senhora,
As senhas que ele levava.”
– “Levava cavalo branco,
Selim de prata doirada;
Na ponta da sua lança
A cruz de Cristo levava.”
– “Pelos sinais que me deste
Lá o vi numa estacada
Morrer morte de valente:
Eu sua morte vingava.”
– “Ai triste de mim viúva,
Ai triste de mim coitada!
De três filhinhas que tenho,
Sem nenhuma ser casada!…
– “Que darias tu, senhora,
A quem no trouxera aqui?”
- “Dera-lhe oiro e prata fina,
Quanta riqueza há por i.”
– “Não quero oiro nem prata,
Não nos quero para mi:
Que darias mais, senhora,
A quem no trouxera aqui?”
– “De três moinhos que tenho,
Todos três tos dera a ti;
Um mói o cravo e a canela,
Outro mói do gerzeli:
Rica farinha que fazem!
Tomara-os el-rei pra si.”
– “Os teus moinhos não quero,
Não nos quero para mi:
Que darias mais, senhora,
A quem to trouxera aqui?”
– “As telhas do meu telhado
Que são de oiro e marfim.”
– “As telhas do teu telhado
Não nas quero para mi:
Que darias mais, senhora,
A quem no trouxera aqui?”
– “De três filhas que eu tenho,
Todas três te dera a ti:
Uma para te calçar.
Outra para te vestir,
A mais formosa de todas
Para contigo dormir.”
– “As tuas filhas, infanta,
Não são damas para mi:
Dá-me outra coisa, senhora,
Se queres que o traga aqui.
– “Não tenho mais que te dar,
Nem tu mais que me pedir.”
– “Tudo, não, senhora minha,
Que inda te não deste a ti.”
– “Cavaleiro que tal pede,
Que tão vilão é de si,
Por meus vilões arrastado
O farei andar aí
Ao rabo do meu cavalo,
À volta do meu jardim.
Vassalos, os meus vassalos,
Acudi-me agora aqui!”
– “Este anel de sete pedras
Que eu contigo reparti. ..
Que é dela a outra metade?
Pois a minha, vê-Ia aí!”
– “Tantos anos que chorei,
Tantos sustos que tremi!…
Deus te perdoe, marido,
Que me ias matando aqui.”
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