Nota biográfica >>

Uma vida dedicada à indústria da publicidade e às relações públicas. Escrita e pintura são a sua profissão e a sua paixão. Grande divulgador do associativismo. Ainda não publicou um livro de poesia.

Daniel D. Dias – “Eu sou tu”

10.05.2012

Eu sou tu,
desconchavado mas sou
Talvez não te pareça, porque agora uso óculos de aro fino
Mas acredita, sou tu
Tenho estado aqui parado
À espera que eu próprio me reconheça
Mas os olhos e as pernas que se atravessam no caminho
Não me dão um minuto de concentração
Sei que sou tu
Não porque alguém me dissesse
(Afinal sempre tive a genética do teu nariz, o pénis curvado
A maçã de adão dorida da angústia)
Mas porque não é matematicamente possível ser eu
Porque não tenho arcaboiço para ser eu próprio
Esta porra de viver a teogonia dos outros
E cavalgar projetos herdados há tantas gerações
Não é própria para quem está aqui de passagem
O sideral espaço da minha mente está vazio
E as minhas mãos estão crispadas
de tanto agarrar essa solidão grotesca
que o relojoeiro louco a quem chamam deus
espalhou por aí

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