Fernando Pinto do Amaral – “Prisão”
15.01.2012
Aqui te sequestramos, meu amor:
ergues os braços, viras a cabeça
cada vez mais atenta – são dois olhos
onde começa o mundo.
Que ciência é a tua? Que magia
transforma a luz de cada lâmpada
no mais puro relâmpago?
É tão difícil encontrar saída,
uma linha de fuga para os gestos,
uma resposta digna desses gritos.
Ensina-me a romper todas as grades
do berço que te embala,
a abrir contigo as portas, decifrando
a matéria que é mais do que matéria,
a que chamamos corpo.
Aqui te sequestramos, com o amor
de quem sabe e não sabe e talvez
não tenha salvação.
Assim te sequestramos, assim estamos
também nós sequestrados desde sempre
no prazer e na dor,
à procura de um íman que nos fale;
de alguém para escutar o nosso antigo pranto;
de uma vez que nos cante às escuras
até adormecermos.
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