Sebastião da Gama – “Apareces tão pouco”
14.01.2012
A pareces tão pouco nos meus sonhos
que quando os sonho chego a ter saudades tuas.
E entretanto tu és ainda a mesma continuas
a pôr cravos e rosas ao pé do meu retrato,
a idealizar uma casa ao rés das ondas
(mal pensas nela, riem nos teus ouvidos nossos filhos)
e a fazer da Vida precisamente a ideia
que fizeste de mim desde a primeira hora.
Era assim, boa e simples, que antigamente chegavas aos meus [sonhos.
E como eu, pela minha, calculava a tua pressa,
fazia-te chegar rosada e ofegante, exausta de correr da tua porta à porta da minha fantasia.
O tempo era o das flores …
E tu colheras uma no caminho e vinhas dá-la
ao maior e melhor de todos os poetas.
Eu fingia fingir acreditar no que de mim julgavas,
e era já acordado que beijava as tuas mãos,
pois desceras comigo do sonho e à minha volta
o estremecer alegre e o perfume suavíssimo do ar
e um silêncio igualzinho ao que se faz quando te calas
eram tua presença verdadeira …
Por que não vens agora?
Todo o tempo é o tempo das flores, para os poetas …
E tu pensas de mim o que pensaste sempre
e bordas nos lençóis as nossas iniciais.
Por que não vens?
Chegarias ainda rosada e ofegante.
Não virias molhar de lágrimas meus sonhos,
porque não sabes nada … Nem sequer
que até esqueci a cor e o corte do vestido
que tu estreaste (há quantas Primaveras?)
no último sonho em que sonhei contigo …
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