Salvador Pliego – “Beijar-te inteira”

14.01.2012

Contarei trezentas e vinte vezes trezentos
para beijar-te toda.
Deslizarei do alto até os pés,
dos penhascos às grutas,
de asa em asa, de pluma em pluma,
à tua sombra e em teus odores,
e para além do que me disse a aurora
da qual nunca me acercara.

Começarei do Este para o Oeste,
fixando um ponto à frente.
Contarei, ponto a ponto,
lento e languidamente,
pois há beijos que valem ouro
e serão pousados quietos sobre teu dorso.
Há beijos que são de encanto
e estes os ponho juntinhos,
para que se amontoem
soprando leves sobre teu doce ventre.
Há beijos que se hipnotizam,
rodam tontos e depois caem como flechas,
perdem-se no teu seio e vibram.

Há beijos e muitos beijos.
Hei-de contá-los sem pressa.
E conto-os, conto-os infindáveis,
só para eriçar tua pele e que te agites.

E quando chego a duzentos e trinta,
sem que percebas,
finjo-me de louco para começar de novo
a partir do zero:
trezentos e vinte trezentas vezes.
De Oeste a Este para deter-me
e inundar de beijos esses vazios
que me escaparam de Este a Oeste.

Trezentas vezes para que sonhes.
Trezentas vezes para que vibres.
Trezentas vezes, pra que me beijes também.
De Este a Oeste, envolvendo-te inteira,
para alentar-te, e arrebatar-te,
a fim de que sintas a primavera
que brotará do teu ventre.
(Tradução: Maria José Limeira)

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