Nota biográfica >>

Viveu na França, de 1962 a 1969, na cidade de Toulouse, onde estudou Matemática. Viajou para os Estados Unidos, onde continuou a estudar. A sua poesia tem conquistado cada vez maior reconhecimento crítico.

António Franco Alexandre – “Ci est d’amer volonté pure”

09.01.2012

Roman de la Rose                                                

Agora vai ser assim: nunca mais te verei.
Este facto simples, que todos me dizem ser simples, trivial,
e humano, como um destino orgânico e sensato,
Fica em mim como um muro imóvel, um aspecto esquecido
e altivo de todas as coisas, de todas as palavras.
Sempre nos separaram as circunstâncias, e a essência
mesma dos dias, quando entre a relva e a copa das árvores
me esquecia de pensar, e o ar passava
por mim antes de erguer os caules verdes e alimentar
a vida sem imagens da paisagem. Marcávamos férias
em meses diferentes. O fim do ano, a páscoa, calhavam sempre
em outros dias. Tesouras surdas
rompiam o cordão dos telefones, e por engano
urgentes cartas atravessavam o planeta, apareciam
anos depois no arquivo municipal. E mais: a minha idade,
a tua, não poderiam nunca encontrar se no mundo.
[…]
(Uma Fábula)

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