Maria Alberta Menéres – “Sósia”
08.01.2012
Ele, não era ele. Era o igual,
o que sorvera os frutos transparentes
que tombavam do rosto
de outra mãe.
Mas tinha o mesmo andar
a mesma raiva
de concentrar os passos imponentes
no poderoso círculo
Ele não era ele. Era o igual,
mas escondia na alma que restava
uma bala perdida e rebrilhando
ao sol como um pedaço de cristal.
Quando o prenderam e o condenaram
em vez do outro que este sim
salvara,
nunca os olhos pararam de brilhar.
Quem era ele, se assim tomava
sobre os seus ombros o destino alheio
que alheio já não era, mas o seu
próprio destino procurado ou não?
Ele não era ele. Era o igual.
Mas quando a bala o procurou
no peito,
encontrou sua vítima perfeita.
Antologia da Poesia Portuguesa Contemporânea, Lacerda Editora,
1999 – RJ, Brasil
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