Maria Helena e “A Arte de Amar”

06.04.2008

Luís
Muito bela a Poesia Erótica de Ovídio, escrita há 2000 anos e que é, em alguns aspectos, tão eterna…
Tu declamaste-a, magistralmente, adoro escutar-te.
As religiões, sempre ligadas à política através dos tempos, foram mantendo a mulher de modo a que ela, representasse um único papel: desejada, púdica, não verdadeira…
Era considerada “mais mulher” a que se recatasse…como Ovídio, cantava na sua terna poesia.
De facto, era um comportamento velado, mas cultural, que valorizava, unicamente, o poder masculino.
Também, mais tarde, essa pressão preconceituosa, existe para manter uma moral necessária, forçando, evidentemente, a mulher a outro tipo de submissões.
Que processo de mudança, tão grande, foi fazendo a mulher, afirmando-se intelectualmente e, por isso, acreditando num descondicionamento do seu próprio corpo!
Orgulho-me de ser mulher e de pertencer ao grupo das sexagenárias que, apesar de terem cuidado da casa e dos filhos, trabalhado fora, apesar de por vezes, desiludidas com seus maridos, muito avançados em teorias progressistas “só de palavras”, mas não de congruência, estas se foram, devagar, emancipando!
Acredito no “descondicionamento” da mulher mas a par da instrução e da sua capacidade de questionar e de largar mitos, que a sua própria família ainda lhes inculcou.
Não acredito na mulher, que age, que se apressa e que quer competir com o homem.
Acredito, sim, na mulher que se encanta, que gosta de também seduzir e ser seduzida…
Viemos de um obscurantismo…
A “mulher” que Salazar queria manter como “fada do lar”, ainda há 40 anos (tão próximo!), era imposta na mentalidade dos liceus femininos, através da “Mocidade Portuguesa”, passando a mensagem prepotente, treinando as raparigas para só serem donas de casa, aprendendo culinária, lavores, puericultura e trabalhos manuais de decoração…
A religião, andava a par…acompanhava.
Mas acredito que, hoje, já existe muita mulher com uma religião, mas não fanática e que seja critica e adopte um outro modelo de olhar a sexualidade.
Mas digo-te, Luís, acho que ainda há, muito falso religioso que, ao pretender, novamente, controlar a liberdade da mulher, defende utopias, defende que se estruture a moral piedosa de “oferecer pão aos pobres”…
Deixo-te uma intervenção da grande poetisa Natália Correia, na Assembleia da República.
Vais-te rir! Recordaremos…Uma homenagem! Ela, estaria hoje contente!
João Morgado, Deputado do CDS, disse na Assembleia da República, no Dia 3 de Abril de 1982, no debate obre a Despenalização do Aborto: «O acto sexual é para ter filhos»
A resposta de Natália Correia, Deputada, em poema, fez rir todas as bancadas parlamentares, sem excepção!
Foi publicado, depois, pelo Diário de Lisboa em 5 de Abril desse ano, tendo os trabalhos parlamentares sido interrompidos por isso:

“Já que o coito – diz Morgado –
tem como fim cristalino,
preciso e imaculado
fazer menina ou menino;
e cada vez que o varão
sexual petisco manduca,
temos na procriação
prova de que houve truca-truca.
Sendo pai só de um rebento,
lógica é a conclusão
de que o viril instrumento
só usou – parca ração! –
Uma vez. E se a função
faz o órgão – diz o ditado –
consumada essa excepção,
ficou capado o Morgado.”

Lena

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