Comentário de Menina Marota

17.01.2008

Olá, Luís…
Confesso que estando tão atrasada na audição do Poesia Erótica, fui ler os últimos comentários (que ainda não tinha lido) ao texto de José Saramago.
Ora chamou-me deveras a atenção, as palavras de um comentador (Figueiredo dos Santos) que se reportou às palavras de Albino Forjaz de Sampaio, para se referir à poesia “A Vulva”, da Encandescente.
Vais-me perdoar Luís por, através deste meio, dar resposta a Figueiredo dos Santos, sobre os prováveis motivos que, Albino Forjaz de Sampaio teria uma visão tão pessimista do corpo da Mulher.
[…] “Mas porque gosto eu tanto delas?
Toda a vida me acorrentaram à cadeia de beijos dos seus braços. Assassinaram-me a energia. Tornaram-me à força de desgostos e de irritações, eu que era uma criatura de pequeninas carícias, de mil afectos pequeninos, de pequenas coisas amorosas, embotado e seco como as plantas que morrem à míngua de água. Amei rude e loucamente, com fé, com ardor. Fui desarmado sempre, escarnecido, pisado.
Quando eu amava, rouco de dizer o meu amor, não encontrava um único coração que se me abrisse. E então, conheci más todas as mulheres.
Mas como hão-de elas amar-me se eu não lhes posso dar oiro? Que tenho eu para lhes dar? O coração? E para que serve o coração? Acaso já serviu para alguém?
Não encontrei nunca uma mulher que não roçasse a espinha pela minha bolsa, como os gatos quando fazem ronrom aos pés do dono.
E todo aquele meu passado amor, toda essa afeição como um charuto caro que alguém esqueceu aceso. Hoje não amo nem creio, como Schopenhauer.
Não é porém despeito tudo isto. Eu continuo a cair nos braços das minhas amantes, mas julgando-as o peor possível.
Quem ama morre. Chi no stima vien stimato, diz o proverbo italiano.” […]
*In “Palavras Cínicas”, págs. 42 a 44 – (1911)*
Falar da Encandescente é ler a sua Poesia, porque ela descobre-se na sua própria poesia…
A ambos locutor e autora da poesia, parabéns por este magnífico programa.
Um abraço
Menina Marota

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