Comentário de Luís Pinto

17.01.2008

Diário de um Louco III

Propositadamente silenciei-me em comentários aquando da audição do capítulo 2, contrariando o prometido no final da minha primeira apreciação.
Há muitos anos vi Jacinto Ramos interpretar este personagem de Gógol, salvo erro no Teatro Nacional. O actor interpretou o “louco” com grande força. Aliás parece ser unânime dizer-se ter sido o melhor “papel” da vida deste artista.
Não faço quaisquer comparações, por ser exactamente impossível faze-las.
A razão é muito simples; no palco o actor está em vantagem em relação a ti. Tem espaço, ou melhor, pode brincar com os silêncios, com os gestos, passeando-se no proscénio inteiro, com o olhar atento para um público que o escuta e vê.
Tu, meu bom amigo, tens um espaço pequeno de ribalta inexistente e, quanto a público, apenas um microfone abstracto, onde te é impossível medir reacções duma plateia que sempre transmite ao actor o agrado ou desagrado (a tosse, o “ranger” das cadeiras, etc.) que o artista atento não deixa de medir para, se necessário, reajustar a sua interpretação.
Por outro lado a tua desvantagem torna-se numa superior qualidade.
Assumes o papel dum leitor que lê em voz alta no silêncio de um quarto.
E cada ouvinte pode “encarnar” a figura do “louco” que representas sentindo-se ele próprio espectador isolado, é um facto, mas confortavelmente instalado na poltrona do prazer da tua interpretação.
Faltam dois capítulos para chegar ao fim mas aceita desde já os meus parabéns.
Luís Pinto

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