Rui Diniz – “Ode aos declamadores”

21.02.2012

Não há poesia sem declamador.
É o declamador que faz a poesia; é ele quem constrói o mito,
é ele que lê o Ouro nas palavras que uns lêem vulgares,
outros nem tanto, seja em voz alta para os outros
ou para si em pensamento…
sim, porque não se pode declamar no pensamento?
Nada o impede.
Na ligação que tudo une, um pensamento faz a diferença!
Destrinça-se dos outros, marca a cadeia quiçá infinita
de rolantes modas, media e medianas…
Mas só um pensamento, dito ou pensado,
na pureza da postura de quem se faz mártir por opção
e decide ser veículo para o que tanto embebedou o poeta
pode ser marcante, pode de facto ser divino!
O declamador é como um ourives.
Ele labuta dentro de si os fios da sua própria existência
fundindo-os com os da existência de outrem
em jóias caras distribuídas a troco de nada.
O poeta dá o ouro cru, a pedra lascada,
o declamador dá tudo, a vida,
a voz, o pensamento, a alma
e no fim é quem fica com nada.
Fica com nada porque já de seu tinha dado tudo…
ao poeta.
O poeta é o mineiro,
o declamador é o artista.
Bem ditos sejam os artistas!

Facebooktwittermailby feather
22152215