Nota biográfica

Manoel Wenceslau Leite de Barros (Cuiabá, 19 de dezembro de 1916) é um poeta brasileiro do século XX, pertencente, cronologicamente à Geração de 45, mas formalmente ao Modernismo brasileiro. A sua obra mais conhecida é o "Livro sobre Nada" de1996.

Manoel de Barros – “Ao ver o abandono…”

13.06.2014 | Produção e voz: Luís Gaspar

casa-abandonada

Ao ver o abandono da velha casa: o mato a
crescer das paredes
Ao ver os desenhos de mofo espalhados nos
rebocos carcomidos
Ao ver o mato a subir no fogão, nos retratos,
nos armários
E até na bicicleta do menino encostada no
batente da casa
Ao ver o musgo e os limos a tomar conta do
batente
Ao ver o abandono tão perto de mim que dava
até para lamber
Pensei em puxar o alarme
Mas o alarme não funcionou.
A nossa velha casa ficou para os morcegos e
os gafanhotos.
E os melões-de-são-caetano que subiram pelas
paredes já estão dando seus frutos vermelhos.

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Manoel de Barros – “A poesia está guardada nas palavras…”

20.02.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

A poesia está guardada nas palavras – e é tudo que eu sei.
Meu fado é o de não entender quase tudo.
Prepondero a sandeu.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
Não cultivo conexões com o real.
Para mim, poderoso não é aquele que descobre ouro,
poderoso para mim é aquele que descobre as insignificâncias:
(do mundo e nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei muito emocionado e chorei.
Sou fraco para elogios.
Nasci para administrar o à-toa
o em vão
o inútil.
Pertenço de fazer imagens.
Opero por semelhanças.
Retiro semelhanças de pessoas com árvores
de pessoas com rãs
de pessoas com pedras
etc etc.
Retiro semelhanças de árvores comigo.
Não tenho habilidade pra clarezas.
Preciso de obter sabedoria vegetal.
(Sabedoria vegetal é receber com naturalidade uma
rã no talo.)
E quando esteja apropriado para pedra, terei
também sabedoria mineral.

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