José Ribeiro Marto – “Ah, os velhos como deitam contas aos dias.”
14.07.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
José Ribeiro Marto - n. 3 de Abril de 1960 entre o concelho da Moita e o de Palmela. Estuda Sociologia no ISCTE e fez uma Pós -Graduação em Escrita Literária, na Universidade Lusófona Foi professor do Ensino Secundário
14.07.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
Ah os velhos como deitam contas aos dias
como lançam a danação de uma carta de sobrancelha
ao parceiro de jogada
como rebatem a vida sobre o tampo de uma mesa
como desaborrecem a morte
como só depois vem o poder de uma dor
combatida pelo ruído de uma máquina
pelos pássaros das gaiolas
pelos gatos nos beirais das janelas
ou na franquia dos muros
tudo o que lhes é silencioso é escuro
tudo o que ouvem já não pertence ao mundo
só a noite o sono o soporífero o amuo
Ah o gosto posto nos rituais nos festejos
o tiro que arremessam ao passado
contado até que adormeçam a morte
ou a criem transparente nos nossos olhos
publicado por poemarte
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14.07.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
Carrego parco peso do silêncio
Ouço
É uma ave nocturna pousada no varadim
Veio com a noite fez-se escura
Cantou com dobras de sino e tábua
Festejou a lua ofereceu as asas
Quis-se inteira habitando o ar da casa
Mas eu sonho o distante e o inteiro da luz
E não consenti que viesse acender meu sangue
No rasgo de um dobrar de asas
Deixei que os pés me fossem chão
Que o corpo vogasse num barco defeso na água
Que a escuridão da noite
Fosse gesto consentido
Estreme na noite intíma só a casa
Deixei que uma gramática me assaltasse as horas
Escrevesse por ela o meu voo libertasse a minha asa
Não desiste de me chamar a ave
No varadim incendeia gutural a noite
Com os olhos de menino parto para longe
E trago uma infância aquecida a fogo posto
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