“Fuzilaram um homem num país distante”, poema de José Gomes Ferreira
16.09.2022 | Produção e voz: Luís Gaspar
José Gomes Ferreira (Porto, 9 de Junho de 1900 - Lisboa, 8 de Fevereiro de 1985) foi um escritor e poeta português. Estudou nos liceus de Camões e de Gil Vicente onde teve o primeiro contacto com a poesia. Colaborou com Fernando Pessoa, ainda muito jovem. Está em todos os grandes momentos "democráticos e antifascistas" e colabora com outros poetas neo-realistas num álbum de canções revolucionárias compostas por Fernando Lopes Graça, com a sua canção "Não fiques para trás, ó companheiro".
16.09.2022 | Produção e voz: Luís Gaspar
Hoje proíbo as rosas de nascerem diante de mim!
Proibo as deusas de dançarem nos olhos
das crianças! Proibo os corpos das mulheres de terem
outro
destino que a morte!
Sim, proibo!
E (baixinho, em sonho) aos gritos no mundo ordeno
aos homens
que
venham para a rua descalços
para sentirem nos pés nus
o silêncio da terra
– e o terror de viverem num planeta
onde os fuzilados não ressuscitam,
nem os malmequeres protestam com flores de luto
contra este sol que continua a fabricar primaveras
mecânicas e este cheiro tão bom a mulheres novas
nas árvores
com cio
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09.09.2022 | Produção e voz: Luís Gaspar
Uma mulher de carne azul, semeadora de
luzes e de transes, atravessou o vidro
e veio, voadora
sentar-se ao meu colo
na nudez reclinada
dum desdém de espelhos.
(Mas que bom! Ninguém suspeita
que levo uma mulher nua nos joelhos.)
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06.07.2022 | Produção e voz: Luís Gaspar
A Lua tece rendas de Bretanha
com linhas de luar, fibras de lírios,
enquanto amortalhadas em martírios
choram as coisas numa língua estranha.
A Noite é o fantasma que se entranha
na nossa própria alma entre delírios;
e as estrelas no Céu são como círios
a iluminar o Templo da Montanha.
Perpassa o Vento, a pobre alma penada
no mundo há tanto tempo condenada
p’lo crime de rasgar o arvoredo.
Na Noite há um silêncio-catedral.
A Lua estende um manto oriental
e a Vida é o sinónimo de Medo.
José Gomes Ferreira
De «Lírios do Monte», 1918
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25.05.2022 | Produção e voz: Luís Gaspar
A Lua tece rendas de Bretanha
com linhas de luar, fibras de lírios,
enquanto amortalhadas em martírios
choram as coisas numa língua estranha.
A Noite é o fantasma que se entranha
na nossa própria alma entre delírios;
e as estrelas no Céu são como círios
a iluminar o Templo da Montanha.
Perpassa o Vento, a pobre alma penada
no mundo há tanto tempo condenada
p’lo crime de rasgar o arvoredo.
Na Noite há um silêncio-catedral.
A Lua estende um manto oriental
e a Vida é o sinónimo de Medo.
José Gomes Ferreira
De «Lírios do Monte», 1918
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16.02.2022 | Produção e voz: Luís Gaspar
Dulcineia, Dulcineia,
volte ao que era:
uma plebeia
sem primavera
Volte aos redis,
coberta de chagas
— sem espuma em gomis
nem brilho de adagas.
Volte ao que foi,
pois ainda conserva
um cheirinho a boi,
um cheirinho a erva…
Volte a apanhar pinhas
e bosta para os fornos.
E a tanger cabrinhas
com flores nos cornos.
Volte a andar de gatas
como os outros bichos…
E esqueça as serenatas
aos seus caprichos.
Esqueça o castelo
onde os donzéis
se batiam em duelo
à século XVI…
E volte à aldeia
da sua labuta.
Dulcineia, Dulcineia,
deixe de ser Ideia
e torne-se a carne e a alma
da nova luta.
(de A Morte de D. Quixote, in Poeta Militante / Viagem do Século Vinte em Mim – 1º volume, Moraes editores, 1977 – Círculo de Poesia)
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20.12.2021 | Produção e voz: Luís Gaspar
Hoje proíbo as rosas de nascerem diante de mim!
Proíbo as deusas de dançarem nos olhos das crianças
proíbo os corpos das mulheres de terem outro destino
que a morte!
Sim, proíbo!
E (baixinho, em sonho) aos gritos no mundo
ordeno aos homens
que venham para a rua descalços
para sentirem nos pés nus
o silêncio da terra
e o terror de viverem num planeta
onde os fuzilados não ressuscitam,
nem os malmequeres protestam com flores de luto
contra este sol que continua a fabricar primaveras mecânicas
e este cheiro tão bom a mulheres novas nas árvores com cio!
Em memória das vítimas do massacre do cemitério de Santa Cruz, em Timor.
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03.03.2015 | Produção e voz: Luís Gaspar
(Este poema foi cortado pela Censura na revista “Vértice” de Coimbra. Acontecia isto no tempo do Salazar)
Apaga-te, lua!
– lâmpada dos lírios e dos cães.
Não finjas de alma
esta realidade violenta
que me dói até às raízes.
Não pintes de mistério
estas bocas de fome
onde só há metafísicas de pão negro.
Não abras asas
na planície das pedras
de fogo apodrecido.
Apaga-te lua!
Peço-te que te apagues!
Para os tímidos poderem amar-se à vontade na sombra sem olhos,
para os humilhados de botas rotas cantarem serenatas
às castelãs de carne invisível,
para as feias se entregarem nuas e abertas ao sexo da noite,
para os trémulos morrerem heróicos em barricadas de imaginação,
para os famintos devorarem com volúpia de vergonha o pão
verde dos caixotes,
para os cegos dizerem: “Não vemos porque não há luar!”,
para os mendigos sonharem em voz alta que são reis a
arrastar mantos negros,
para os escorraçados saírem dos canos lôbregos,
e forrarem o mundo de luz própria como as estrelas,
para os ladrões velhinhos arrombarem as caixas das esmolas
onde só os pobres deitaram moedas falsas,
para os visionários mergulharem as mãos na noite
em busca de outra lua sem vincos de caveira,
para as mães das caves convencerem os filhos: “Moramos
num palácio às escuras”…
Ouviste, lua?
Apaga-te!
lâmpada dos cães e dos poetas magros.
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02.03.2015 | Produção e voz: Luís Gaspar
Sofro, noite!
Não as dores metafísicas que os homens suam nas estrelas
para enfeitarem a fome da aristocracia das nuvens.
Não o terror súbito de nos vermos sozinhos na terra
sem uma voz nos astros que nos diga: «Cá estamos nós também!»
Não a tortura de saber se existe ou não existe
um Deus de carne igual à nossa a dar ordens às pedras.
Não a agonia dos lamentos que saem dos poços para o céu
e erram de árvore em árvore, de monte em monte, de corola em corola
com lobos voadores nos uivos dos vendavais.
Não o suor dos anjos na via láctea. O anseio do infinito. A angústia da sombra sem raízes.
Não o sufocar da treva no corredor cada vez mais estreito, cada vez mais estreito, cada vez mais estreito…
Não o assombro dos lírios negros. O gemer das almas nos cruzeiros
e todos os sofrimentos da lua habitada por fantasmas…
…Mas por outras razões mais desesperadamente vis,
mais limitadamente exíguas e directas,
como esta mulher de xaile aqui na minha frente
a sofrer o mistério da fome
perdida na noite imensa,
na noite inquieta,
na noite absurda
cheia de crianças a chorar
lágrimas para além das estrelas,
ah! mas mais profundas e eternas
do que todos os mistérios do universo
com o céu e o inferno dentro da cabeça dos homens.
Lágrimas! – ouviste, noite?
Lágrimas de crianças espantadas de haver olhos sem lágrimas na vida.
Lágrimas de carne humana a rasgarem o frio dos penedos
e a molharem de lume o clamor dos bichos
presos à solidão da terra.
Lágrimas, ouviste?
Ah! poetas: não olhemos mais para o céu.
Deixemos os mistérios para depois
quando não houver na noite
outras razões de sofrer mais vis.
Não olhemos mais para o céu!
Abaixo as estrelas, a lua, a via láctea
e todo esse espectáculo de luzes
como um candelabro de cometas
a iluminar a festa da miséria
no palácio do mundo.
Abaixo os astros! Essas caricaturas das lágrimas dos homens
de propósito belas e suspensas
para nos esquecermos das outras
que nos doem, nos olhos,
a inutilidade de chorar.
Lágrimas – ouviste, noite?
Lágrimas de grito!
Lágrimas de beber!
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05.11.2014 | Produção e voz: Luís Gaspar
Nunca ouvi um alentejano cantar sozinho
com egoísmo de fonte.
Quando sente voos na garganta
desce ao caminho
da solidão do seu monte,
e canta
em coro com a família do vizinho.
Não me parece pois necessária
outra razão
– ou desejo
de arrancar o sol do chão –
para explicar
a reforma agrária
no Alentejo.
É apenas uma certa maneira de cantar.
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12.05.2014 | Produção e voz: Luís Gaspar
Sofro, noite!
Não as dores metafísicas que os homens suam nas estrelas
para enfeitarem a fome da aristocracia das nuvens.
Não o terror súbito de nos vermos sozinhos na terra
sem uma voz nos astros que nos diga: “Cá estamos nós
também!”
Não a tortura de saber se existe ou não existe
um Deus de carne igual à nossa a dar ordens às pedras.
Não a agonia dos lamentos que saem dos poços para o céu
e erram de árvore em árvore, de monte em monte, de corola
em corola
com lobos voadores nos uivos dos vendavais.
Não o suor dos anjos na via láctea. O anseio do infinito. A
angústia da sombra
sem raízes.
Não o sufocar da treva no corredor cada vez mais estreito,
cada vez mais
estreito, cada vez mais estreito…
Não o assombro dos lírios negros. O gemer das almas nos
cruzeiros
e todos os sofrimentos da lua habitada por fantasmas…
… Mas por outras razões mais desesperadamente vis,
mais limitadamente exíguas e diretas,
como esta mulher de xaile aqui na minha frente
a sofrer o mistério da fome
perdida na noite imensa,
na noite inquieta,
na noite absurda
cheia de crianças a chorar
lágrimas para além das estrelas,
ah! mas mais profundas e eternas
do que todos os mistérios do universo
com o céu e o inferno dentro da cabeça dos homens.
Lágrimas! – ouviste, noite?
Lágrimas de crianças espantadas de haver olhos sem lágrimas
na vida.
Lágrimas de carne humana a rasgarem o frio dos penedos
e a molharem de lume o clamor dos bichos
presos à solidão da terra.
Lágrimas, ouviste?
Ah! poetas: não olhemos mais para o céu.
Deixemos os mistérios para depois
quando não houver na noite
outras razões de sofrer mais vis.
Não olhemos mais para o céu!
Abaixo as estrelas, a lua, a via láctea
e todo esse espectáculo de luzes
como um candelabro de cometas
a iluminar a festa da miséria
no palácio do mundo.
Abaixo os astros! Essas caricaturas das lágrimas dos homens
de propósito belas e suspensas
para nos esquecermos das outras
que nos doem, nos olhos,
a inutilidade de chorara.
Lágrimas! – ouviste, noite?
Lágrimas de grito!
Lágrimas de beber!
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18.09.2013 | Produção e voz: Luís Gaspar
O sol é sempre o mesmo e o céu azul
ora é azul, nitidamente azul,
ora é cinzento, negro, quase-verde…
Mas nunca tem a cor inesperada.
O mundo não se modifica.
As árvores dão flores,
folhas, frutos e pássaros
como máquinas verdes.
As paisagens também não se transformam.
Não cai neve vermelha,
não há flores que voem,
a lua não tem olhos
e ninguém vai pintar olhos à lua.
Tudo é igual, mecânico e exacto.
Ainda por cima os homens são os homens.
Soluçam, bebem, riem e digerem
sem imaginação.
E há bairros miseráveis sempre os mesmos,
discursos de Mussolini,
guerras, orgulhos em transe,
automóveis de corrida…
E obrigam-me a viver até à Morte!
Pois não era mais humano
morrer por um bocadinho,
de vez em quando,
e recomeçar depois,
achando tudo mais novo?
Ah! se eu pudesse suicidar-me por seis meses,
morrer em cima dum divã
com a cabeça sobre uma almofada,
confiante e sereno por saber
que tu velavas, por mim, meu amor do Norte.
Quando viessem perguntar por mim,
havias de dizer com teu sorriso
onde arde um coração em melodia:
“Matou-se esta manhã.
Agora não o vou ressuscitar por uma bagatela.”
E virias depois, suavemente,
velar por mim, subtil e cuidadosa,
pé ante pé, não fosses acordar
a Morte ainda menina no meu colo…
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16.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
O sol é sempre o mesmo e o céu azul
ora é azul, nitidamente azul,
ora é cinza, negro, quase-verde…
Mas nunca tem a cor inesperada.
O mundo não se modifica.
As árvores dão flores,
folhas, frutos e pássaros
como máquinas verdes.
As paisagens também não se transformam.
Não cai neve vermelha,
não há flores que voem,
a lua não tem olhos
e ninguém vai pintar olhos à lua.
Tudo é igual, mecânico e exacto.
Ainda por cima, os homens são os homens.
Soluçam, bebem, riem e digerem
sem imaginação.
E há bairros miseráveis, sempre os mesmos,
discursos de Mussolini,
guerras, orgulhos em transe, automóveis de corrida…
E obrigam-me a viver até à Morte!
Pois não era mais humano
morrer por um bocadinho,
de vez em quando,
e recomeçar depois,
achando tudo mais novo?
Ah! se eu pudesse suicidar-me por seis meses,
morrer em cima de um divã
com a cabeça sobre uma almofada,
confiante e sereno por saber
que tu velavas por mim, meu amor do Norte.
Quando viessem perguntar por mim,
havias de dizer com o teu sorriso
onde arde um coração em melodia:
“Matou-se esta manhã.
Agora não o vou ressuscitar
por uma bagatela.”
E virias depois, suavemente,
velar por mim, subtil e cuidadosa,
pé ante pé, não fosses acordar
a Morte ainda menina no meu colo…
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16.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
Todos nascemos nus
– condição dos vermes, dos punhais
e da luz.
Os filhos só têm a mais o terror das diferenças
das mães a vesti-los com os braços
– destinos feios
de mijo a chorar nas rendas
e violinos em trapos.
Todos nascemos nus
– condição dos seios, das açucenas
e dos sapos.
Mas até os seios das mães
são diferentes.
Uns cheiram a sedas quentes,
outros, a urina de cães.
Bem. Agora devia sofrer
cuspir nos espelhos
dos remorsos.
E esbofetear o céu
com gritos de mãos de ossos.
Mas não. Sorrio
Todos nascemos nus
– condição dos mortos
despidos pelo frio
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16.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
Devia morrer-se de outra maneira.
Transformarmo-nos em fumo, por exemplo.
Ou em nuvens.
Quando nos sentíssemos cansados, fartos do mesmo sol
a fingir de novo todas as manhãs, convocaríamos
os amigos mais íntimos com um cartão de convite
para o ritual do Grande Desfazer: “Fulano de tal comunica
a V. Exa. que vai transformar-se em nuvem hoje
às 9 horas. Traje de passeio”.
E então, solenemente, com passos de reter tempo, fatos
escuros, olhos de lua de cerimónia, viríamos todos assistir
a despedida.
Apertos de mãos quentes. Ternura de calafrio.
“Adeus! Adeus!”
E, pouco a pouco, devagarinho, sem sofrimento,
numa lassidão de arrancar raízes…
(primeiro, os olhos… em seguida, os lábios… depois os cabelos… )
a carne, em vez de apodrecer, começaria a transfigurar-se
em fumo… tão leve… tão sutil… tão pólen…
como aquela nuvem além (vêem?) — nesta tarde de outono
ainda tocada por um vento de lábios azuis…
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07.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
O sol é sempre o mesmo e o céu azul
ora é azul, nitidamente azul,
ora é cinza, negro, quase-verde…
Mas nunca tem a cor inesperada.
O mundo não se modifica.
As árvores dão flores,
folhas, frutos e pássaros
como máquinas verdes.
As paisagens também não se transformam.
Não cai neve vermelha,
não há flores que voem,
a lua não tem olhos
e ninguém vai pintar olhos à lua.
Tudo é igual, mecânico e exacto.
Ainda por cima, os homens são os homens.
Soluçam, bebem, riem e digerem
sem imaginação.
E há bairros miseráveis, sempre os mesmos,
discursos de Mussolini,
guerras, orgulhos em transe, automóveis de corrida…
E obrigam-me a viver até à Morte!
Pois não era mais humano
morrer por um bocadinho,
de vez em quando,
e recomeçar depois,
achando tudo mais novo?
Ah! se eu pudesse suicidar-me por seis meses,
morrer em cima de um divã
com a cabeça sobre uma almofada,
confiante e sereno por saber
que tu velavas por mim,
meu amor do Norte.
Quando viessem perguntar por mim,
havias de dizer com o teu sorriso
onde arde um coração em melodia:
“Matou-se esta manhã.
Agora não o vou ressuscitar
por uma bagatela.”
E virias depois, suavemente,
velar por mim, subtil e cuidadosa,
pé ante pé, não fosses acordar
a Morte ainda menina no meu colo…
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