Nota biográfica >>

Alexandre Manuel Vahía de Castro O'Neill (Lisboa, 19 de Dezembro de 1924 - Lisboa, 21 de Agosto de 1986), ou simplesmente Alexandre O'Neill, descendente de irlandeses, foi um importante poeta do movimento surrealista.

“Periclitam os Grilos”, poema de Alexandre O’Neill.

04.04.2022

Periclitam os grilos:
a noite é nada.
Quem tem filhos tem cadilhos.
(Que quadra tão bem rimada!)

Não espere, leitor, que eu diga:
«Debaixo daquela arcada…»
Não venho fazer intriga:
versejo só – e mais nada.

Assim o terceiro verso
desta tirada
(reparou que é um provérbio?)
não significa mais nada.

Se a noite é nada e os grilos
não estão de asa parada,
não vou puxar, só por isso,
o fio à sua meada,

leitor que me pede a história
que já traz engatilhada,
leitor que não se habitua
a que não aconteça nada

em poesia que comece
como esta foi começada
e acabe como esta
vai ser agora acabada…


Alexandre O’Neill
[de “Abandono Vigiado” 1960]
in «Poesias Completas», Assírio & Alvim, 2000
Introdução de Miguel Tamen

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