“Poema lido pelo poeta em Nápoles” de Casimiro de Brito.
11.10.2021
Ama-me, diz ela, crucifica-me
de amor. No chão da cama a crucifico.
Deito-a de costas, abro-lhe os braços
e prego-a até eu próprio desfalecer. Na boca
a prego, nas mãos a prego e ela agita-se
e ela sorri e ela chora e as suas lágrimas
confundem-se com a sua saliva. E ela começa
a mastigar-me. E depois
viro o seu corpo e prego-a ao centro
e então é ela que, pregada,
me devora e concilia com a Via Láctea
que a ambos submerge. E depois
deita-se de bruços e pede-me
que a sacrifique um pouco mais, na sua flor
sombria, mas eu já não tenho forças e então
sou eu quem, humildemente, se deixa
crucificar.
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