Nota biográfica >>

Judite dos Reis Ramos Teixeira ou Judith Teixeira (Viseu, 25 de Janeiro de 1880 - Lisboa, 17 de Maio de 1959) foi uma escritora portuguesa. Publicou três livros de poesia e um livro de contos, entre outros escritos. Em 1925 lançou a revista Europa, de que saíram três números. Exemplares do seu livro Decadência (1923) foram apreendidos, juntamente com os livros de António Botto (Canções) e Raul Leal (Sodoma Divinizada), e mandados queimar pelo Governo Civil de Lisboa na sequência de uma campanha contra "os artistas decadentes, os poetas de Sodoma, os editores, autores e vendedores de livros imorais".

Judith Teixeira – “A Bailarina Vermelha”

30.03.2016

papoila

Ela passa,
a papoila rubra,
esvoaçando graça,
a sorrir…
Original tentação
de estranho sabor:
a sua boca – romã luzente,
a refulgir!…

As mãos pálidas, esguias,
dolorosas soluçando,
vão recortando
em ritmos de beleza
gestos de ave endoidecida…
Preces, blasfémias,
cálidas estesias
passam delirando!…

Mordendo-lhe o seio
túrgido e perfurante,
delira a flama sangrenta
dos rubis…
E a cinta verga, flexuosa,
na luxuria dominante
dos quadris…

Um jeito mais quebrado no andar…

Um pouco mais de sombra no olhar
bistrado de lilás…

E ela passa
entornando dor,
a agonizar beleza!…
Um sonho de volúpia
que logo se desfaz,
em ruivas gargalhadas
dispersas… desgrenhadas!…

Magoam-se os meus sentidos
num cálido rubor…

E nos seus braços endoidecem
as anilhas d’oiro refulgindo
num feérico clamor!…

E ela passa…

Fulva, esguia, incoerente…
Flor de vicio
esvoaçando graça
na noite tempestuosa
do meu olhar!…
Como uma brasa ardente,
e infernal e dolorosa,
… a bailar…

a bailar!…

(“Noite”- 1925)

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