José Craveirinha – “Poema”
14.01.2016
Para Josefa Brito
Por que te fechaste
à clara insinuação de carinho dos teus irmãos?
E a cada apelo respondeste evasivamente
com as belas mãos cerradas numa recusa formal?
Não vês que te queremos
e amamos sinceramente como nossa irmã mais nova
e que nos dói no sangue, na pele e na alma
fundamente
a tua inconcebível indiferença pela nossa voz fraterna?
Irmã de cabelos soltos ondulando
como seara de veludo acariciada pela nortada.
Irmã dos olhos lânguidos, magoados,
escuros como a noite amortalhando nossos destinos
por que te fechaste, Irmã morena
e preferiste deixar-nos de mãos vazias, inertes desiludidas
quando a esmola implorada
era pura e límpida como a verdade mais nua?
Vem! despojada dos erisses que te cegam.
E que foi simples timidez o teu gesto, diz-nos
para que confiemos em ti completamente
como só se confia no mesmo companheiro de cela
e não passemos por ti desconfiados, retraídos
como se fôssemos mutuamente estrangeiros
e não do mesmo sangue gordo de porquês
e não da mesma alma, angra de sofrimentos
e não do mesmo desespero, pão do nosso silêncio
e não da mesma ânsia, sede da nossa vida,
da mesma fome potente
e da mesma febre que nos coalha as veias luminosamente!
(in «O Brado Africano»)
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