António Ramos Rosa – “Uma voz na pedra”
15.04.2015
Não sei se respondo ou se pergunto. Sou uma voz que
nasceu na penumbra do vazio. Estou um pouco ébria e
estou crescendo numa pedra. Não tenho a sabedoria do
mel ou a do vinho. De súbito ergo-me como uma torre de
sombra fulgurante. A minha ebriedade é a da sede e a da
chama. Com esta pequena centelha quero incendiar o
silêncio. O que eu amo não sei. Amo em total abandono.
Sinto a minha boca dentro das árvores e de uma oculta nascente.
Indecisa e ardente, algo ainda não é flor em mim. Não
estou perdida, estou entre o vento e o olvido. Quero
conhecer a minha nudez e ser o azul da presença.
Não sou a destruição cega nem a esperança impossível. Sou
alguém que espera ser aberto por uma palavra.
Podcast (estudio-raposa-audiocast): Download