Nota biográfica >>

Poetisa portuguesa nascida em 1933 e falecida em 1995. Publicou Tríptico de Sábado (1964), Perfeito do Indicativo (1982) e Demonstração a Giz (1984). Na sua poesia assiste-se ao confronto com a realidade africana, assente numa experiência da vida em Angola, com uma especial sensibilidade a diversos aspetos da negritude.

Maria da Graça Varella Cid – “Insisto…”

23.09.2014

deus14

Insisto em confirmar serenamente que
Não deves incluir-me já no teu percurso,
Nem na redonda noite imensa aberta ao meio,
Nos bancos de coral onde o teu sangue nasce,
Nem nos flancos de sal ou no interior dos músculos.

Insisto em te avisar que meus segredos múltiplos
Te expurgaram de vez de todos os circuitos
Em seu lugar deixando um vácuo que se expande
Desde o meu raciocínio à margem do crepúsculo.

Confesso no entanto que o teu eco duplo
Me persegue voraz logo que a lua chega.

E não obstante tu não mudas de silêncio,
Não voltas para trás onde as minhas mãos nuas
Em metal te esculpiam como a um deus nocturno

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