Paulo José Miranda – “O esconderijo”
11.02.2014
Quando não tenho onde esconder as dores
espreito pela janela, aguardo um carro passar. As
mulheres que vêm das compras
e discutem sobre o elevado preço das coisas.
O gesto mínimo traz em si todas as palavras
que não chegam para suspender este sufoco.
Coabitamos cada vez pior, eu e a memória.
Os prédios em construção, as barracas,
as escavadoras tirando terra daqui, colocando-a ali,
o ladrar dos cães àquilo que lhes é estranho. Em nada
encontro um antídoto para o sentido. Quando não
tenho onde esconder as dores espreito pela janela,
aguardo qualquer coisa passar.
(de A Voz Que Nos Trai)
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