Nota biográfica >>

Os textos apresentados nesta página foram publicados e copiados do livro "Rosa do Mundo - 2001 poemas para o futuro" editado pela Assírio & Alvim com direcção editorial de Manuel Hermínio Monteiro. A música que serve de fundo a estes textos é de autoria de Luís Pedro Fonseca e amavelmente cedida ao Estúdio Raposa.

“Origem das Estações e dos Orifícios”

13.05.2012

Nova Guiné. Baruya

No princípio, Sol e Lua confundiam-se com a Terra. Tudo era pardo e cinzento. Homens, espíritos, animais e plantas viviam juntos e falavam a mesma língua. Mas os homens não eram como hoje os conhecemos; o pénis do homem não tinha qualquer orifício e a vagina da mulher estava completamente fechada.
Certa vez, Sol e Lua decidiram afastar-se da Terra e tomarem o céu como lar. Olhando os homens lá do alto, Sol decidiu que havia alguma coisa a fazer pelo ser humano. Combinou então com Lua que, enquanto estivesse no céu, esta teria de descer à Terra. Quando Sol desejasse repousar, Lua tomaria o seu lugar e governaria os céus. Conseguiram assim alternar o dia e a noite, a chuva e o calor e pouco tardou para que criassem as estações. Na Terra, os animais separaram-se dos humanos para irem viver na floresta e com eles levaram os espíritos que, para sempre, se tornariam inimigos do homem. A língua comum desapareceu e não mais os homens comunicaram com os animais, excepto com os cães.
Sempre observador e perspicaz, Sol apercebeu-se então que o homem e a mulher ainda se encontravam desprovidos de quaisquer orifícios: não poderiam multiplicar-se e construir uma sociedade suficientemente grande para que pudessem sobreviver sem a ajudados espíritos e dos animais. Lançou então uma pedra, «como a lua», sobre uma fogueira. A pedra explodiu e as lascas acabaram por perfurar o homem e a mulher que agora podiam copular e reproduzir-se. Os primeiros Baruya obedeceram assim à vontade de Sol, multiplicando-se e povoando a Terra. Ainda por perfurar, não tardou para que os cães começassem a dizer mal dos homens. Enfurecidos, os Baruya organizaram-se, perseguiram os cães e alvejaram-nos com flechas que acabaram por lhes perfurar o sexo. Desde então, os cães deixaram de falar e hoje apenas uivam à Lua.

Trad.: Manuel João Magalhães

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